• Siga-nos em nossas redes sociais:
quarta-feira, 08/03/2017
Pais e Alunos

Conheça a diretora que dedica seu tempo para fomentar um bom futuro profissional aos seus alunos

Com 62 anos de idade, Cleide Torres acredita que é preciso se reinventar a cada dia

“Eu sou feliz como professora, a escola é a minha vida. Eu nunca achei que fosse cansativo. Depois de um dia de trabalho a gente até sente o cansaço, mas se precisar estender por mais 24 horas para finalizar alguma coisa eu estendo”. Cleide Mara Dalla Torres tem 62 anos de idade, mas, segundo confidenciou, às vezes parece que tem uma cabeça igual a de seus alunos, de 15 anos. Isso porque, para ser diretora de uma escola de tempo integral, com 560 alunos, a pessoa não pode envelhecer, e não tem a opção de se cansar, considera a diretora. “Se a pessoa cansar ela fica de lado. Então, é uma nova juventude a cada dia”.

Siga a Secretaria da Educação no Twitter e no Facebook

Cleide Torres nasceu em Santo André, mas foi criada em São Bernardo do Campo, ambas as cidades da grande São Paulo. Ela sempre quis ser professora, pois dar aula estava em seu sangue. Quando criança, a pequena “prô Cleide” lecionava para seu aluno mais que especial, o Bob, “um vira-latas cinza tão lindo, que sentava e assistia as aulas”. Na hora do lanche – claro! A brincadeira tinha horário de intervalo, afinal, Bob não era um cachorro durante as aulas, e sim um aluno -, ela embebia bolacha de maisena na água e dava para o cão, que comia como se fosse um manjar dos deuses. É até possível que o Bob não estivesse muito interessado nas aulas de Português ou Matemática, mas para fazer a refeição algum preço ele teria que pagar.

Na escola, Cleide se destacava em exatas, pois sempre saia vitoriosa dos concursos de matemática entre salas. Era só se inscrever nos campeonatos e pronto, mais um título que levava ansiosa para casa. Seu pai, que sempre se preocupou com o futuro profissional da pequena, desejava que a filha fosse engenheira. Mas, não era isso que Cleide pretendia. Ir contra a vontade de seu gerador não era sinal de afronta, mas sim de compromisso com algo maior: o sonho de lecionar. Como o pai se negou a pagar os custos do vestibular, caso a filha não escolhesse engenharia, foi sua avó Aracelis quem fez as vezes. Pronto! A pequena Cleide, agora, se tornaria a professora Cleide de Matemática.

Se formou na década de 1970, e começou a ensinar no ano de 1976. Depois se tornou coordenadora de alunos e vice-diretora, por muitos anos, sempre conciliando com a sala de aula, tendo em vista que não parou de dar aulas até se tornar diretora, há cinco anos. Ela gostaria de ser diretora há muito mais tempo, mas como conciliava as tarefas administrativas (na rede pública) com a função de professora (na rede privada) não conseguiu por incompatibilidade de horários.

Desde que assumiu a direção da E.E. Educador Pedro Cia, em Santo André, descobriu que poderia ajudar a orientar uma infinidade de alunos para que tomassem decisões mais coerentes sobre o futuro profissional e também para que se tornassem pessoas melhores.

É por isso que Cleide, ou Dirê, como é chamada pelos alunos em alusão ao seu cargo de diretora, desenvolveu uma forma diferente de educar a criançada. Quando fala sobre o ensino de tempo integral, ela é muito clara ao afirmar que “aumentar o tempo de permanência é aumentar a qualidade do aprendizado. É exatamente isso, ensino integral. Aqui [na escola Educador Pedro Cia] ensinamos coisas que vão desde o preparo para uma entrevista, ou então como se servir na hora das refeições, até a melhor maneira de cuidar do meio ambiente, cuidar da escola e/ou cuidar do próximo. Respeitar o próximo.”

Com o mesmo orgulho que uma mãe sente do filho, de sua boca as palavras fluem com muito carinho e respeito quando fala sobre os alunos. A diretora estufa o peito para falar mais forte que no seu espaço de trabalho não existem “brigas, nem gravidez precoce, nem depredação de patrimônio desde 2012 e absolutamente nada de pichação. Em contrapartida, os papéis higiênicos do banheiro são todos preservados pelos adolescentes, assim como também são em suas casas”, esclarece Cleide, cheia de brio, por ser esse o reflexo de seu trabalho, desenvolvido juntamente com seu quadro de funcionários.

Para organizar as tarefas desempenhadas pelos alunos, as escolas de tempo intregral desenvolvem os clubes, carinhosamente chamados de clubinhos. São inúmeros, a saber: clube do voluntariado, clube da dança, da gastronomia, do teatro, do cinema, da música. Clube da estética, clube da iniciação científica, clube da leitura, e o mais recém formado clube, o do vestibular ITA, criado para auxiliar o preparo de quatro jovens da última série do Ensino Médio, para que se preparem para um dos vestibulares mais concorridos do país e consigam colher os louros após o processo seletivo.

Cleide usa um método que se diferencia bastante de outros praticados em ambiente escolar. Ela trabalha com o futuro dos alunos. A ideia é que durante o primeiro ano do Ensino Médio cada adolescente crie um projeto de vida profissional, que será trabalhado e desenvolvido em atividades de sala de aula. No ano seguinte, os professores e alunos fazem exercícios de pesquisa da área escolhida, e após tirarem todas as dúvidas possíveis chegam à conclusão sobre dar continuidade ao projeto ou alterar a profissão. O terceiro ano é reservado para a preparação acadêmica, sempre com foco na universidade que o aluno pretende prestar o vestibular.

E, falando em vestibular, não são apenas os alunos que estão se preparando. Em julho, Cleide deve se aposentar, mas, embora ela seja mestre na arte de bordar, não pretende ficar na poltrona tecendo blusas para as pessoas que a rodeiam. Ao invés disso, e como todo adolescente de 15 anos, a Dirê confidenciou que nos próximos meses deve fazer provas para tentar entrar em algum curso de Direito. Sua vontade é atuar na Vara da família, na área da juventude.