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terça-feira, 09/06/2015
Sociedade

Herman Voorwald: Não há vencedores

Disputas e conflitos subentendem por definição a existência de vencedores e perdedores. Se originam da premissa de que, ao final, um grupo deixará a contenda levando consigo a razão e […]

Disputas e conflitos subentendem por definição a existência de vencedores e perdedores. Se originam da premissa de que, ao final, um grupo deixará a contenda levando consigo a razão e a ideia, por vezes falsa, de prevalência diante do adversário. Pressupõem ainda a existência de lados antagônicos, o que, invariavelmente, culmina no entendimento de que a vitória de uns advém do fracasso de outros.

Algumas batalhas, no entanto, já nascem derrotadas. Em educação, por exemplo, o sucesso é fruto da reunião de esforços e da disputa de um único time, em que todos, a despeito de algumas divergências, vestem a mesma camisa e empunham a mesma bandeira.

O lado também é um só: o do aluno. Por essa razão, travestir a defesa de agremiações políticas e partidárias em uma batalha pela melhoria da educação agride o direito inalienável de aprender e o de ensinar, além de produzir uma guerra da qual ninguém sai vencedor.

Nos últimos meses, a educação pública paulista, notoriamente reconhecida por sua grandeza, pluralidade e histórico de inclusão tem sido utilizada por uma entidade sindical a cargo de interesses alheios ao ensino e, sobremaneira, distantes do compromisso de milhares de professores pelo aprendizado. Ofereceu-se o diálogo, o sindicato optou pelo enfrentamento.

A Apeoesp, único dos seis sindicatos da educação a entrar em greve, por meio de malabarismos numéricos, tem transformado uma paralisação em um evento midiático e, por vezes, violento. A própria Justiça tem reagido com austeridade.

A maioria dos professores do Estado de São Paulo escolheu manter o compromisso com alunos e famílias: 95% estão nas escolas.

Na tentativa de fazer valer sua pauta, grevistas desafiam o bom senso. Paralisaram estradas, criaram campanhas para incentivar que os pais não levassem seus filhos à escola, ameaçaram professores que se recusaram a cruzar os braços e danificaram um patrimônio histórico de São Paulo, encapuzando baderneiros como se fossem professores.

O movimento se recusa a olhar o passado recente. Em 2011, uma das primeiras ações do governo de São Paulo foi a materialização de uma política salarial para todos os professores da rede.

A proposta foi transformada em lei e garantiu um reajuste de 45% de aumento nominal (21% real), distribuídos ao longo de quatro anos. Mais de 415 mil professores, entre ativos e aposentados, foram contemplados e o salário do professor paulista chegou a ser 42% superior ao piso nacional.

O passado recente também observa a criação de um plano de carreira inédito, a realização do maior concurso da história do magistério paulista e a participação efetiva de todas as entidades na construção das políticas educacionais do Estado. Ofereceu-se a legitimidade, o sindicato optou pela batalha.

No início deste ano, o governo paulista garantiu uma nova política salarial. Em meio a uma série crise econômica, São Paulo reafirmou o compromisso pela valorização. A exemplo do que havia feito no início da última gestão, manteve o mês de julho como data-base. O sindicato se recusou a ouvir e decretou, arbitrariamente, a greve.

Em educação, as rivalidades tendem a ser covardes, penalizando aqueles que têm no aprendizado a principal ou única alternativa para a construção de um futuro.

Sem vencedores, atingimos o contraditório, fazendo recrudescer o entendimento de que a escola pública não pode mais servir a interesses alheios às suas mais importantes tarefas: a de acolher e a de ensinar. Qualquer outra batalha pressupõe a derrota dos indefesos.