Quando se mudou para São Paulo, no início de 2020, a potiguar Jardenia Felix (17 anos) tinha a intenção de disputar torneios de atletismo para conseguir uma vaga na Paralimpíada, mas ela e a prima Mônica Fernanda, sua acompanhante na Capital, não esperavam as medidas de quarentena impostas por conta da pandemia do coronavírus (Covid-19).
“Viemos em março para morar no Centro Paralímpico, onde ela se prepararia para as competições de classificação. Uma semana antes das aulas presenciais serem suspensas eu fui até a escola e fiz a matricula dela, mas com a quarentena ela nem chegou a ir presencialmente”, explicou Mônica.
Jardênia conta que sempre foi fã de esportes. Ela chegou a praticar futsal e taekwondo antes de ser apresentada ao atletismo pelo primo. Foi durante os treinos da modalidade que um professor na época notou uma falta de atenção um pouco incomum. Após orientação e testes, a atleta teve o diagnóstico déficit de atenção, que junto com a dificuldade de aprendizado a credenciaram para participar de provas paralímpicas na classe T20, voltada para atletas com deficiência intelectual. “Não tive nenhum problema quando mudei para a modalidade paralímpica, me senti bem acolhida”, disse.
Aulas na rede estadual
Após a suspensão das aulas presenciais e com a prolongação da quarentena, Jardenia voltou para Natal, mas continuou com sua matrícula ativa na Escola Estadual Salvador Moya, na zona sul da capital. E mesmo a distância continuou com seus estudos, sempre com o apoio da prima.
“Os professores e toda equipe da escola são atenciosos, eles entendem a condição dela, então também me incluem nas salas de transmissão das aulas para que eu possa auxiliar a Jardenia aqui de casa. Nós também acompanhamos as aulas pelo Centro de Mídias”, explicou Mônica.
“Eu queria muito poder conhecer a escola, porque eu nunca fui lá pessoalmente, mas tenho aulas há mais de um ano. Os professores são muito incríveis, eles conseguem entender o meu lado, me fazem perguntas e quando eu não consigo entrar na aula, minha prima me ajuda”, disse a atleta.
Rumo a Tóquio
A seletiva para as paralimpíadas em Tóquio aconteceram em junho de 2021. Durante 15 dias, em um ambiente controlado e com testagem, os atletas passaram pelos testes, no qual a estudante garantiu a sua ida. Com 17 anos, Jardenia é atleta mais nova a integrar a delegação brasileira de atletismo paralímpico. Ela deve disputar as provas de 400m, onde atualmente ocupa a 3ª posição no ranking mundial da sua categoria, e salto em distância.
A preparação acontece de segunda a sábado, sempre na parte da manhã com uma rotina que mescla aquecimento com treinos mais pesados. Em São Paulo, o treinador é Fabio Dias e em Natal, Felipe Veloso. A atleta, porém, atua de forma independente, sem patrocínio.
Uma nova parte da preparação para os jogos, a vacinação contra Covid-19, também já foi cumprida pela atleta, que está com o calendário vacinal completo com duas doses da imunização.
Experiências Internacionais
Os Jogos Paralímpicos de Tóquio vão ser o terceiro carimbo no passaporte da atleta. Jardenia já competiu no Mundial de Jovens na Suíça, em 2019, onde foi medalhista em duas modalidades: prata nos 400m e ouro no salto em distância. No mesmo ano, na Austrália, no INAS Global Games, conquistou duas medalhas de bronze nos 100m e nos 200m.
“Além de competir, o bom (de viajar) é que vamos conhecendo os cantos que nem esperávamos. Podemos conhecer a comida e pessoas novas de outros países”, disse Jardenia.