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quarta-feira, 09/05/2018
Ensino Fundamental

Com estatuto próprio, escola Canuto do Val mantém grêmio estudantil por gerações

O documento foi estabelecido em Assembleia e colabora para que as ações dos gremistas sejam pontuais

Quando o assunto é formar Grêmio Estudantil forte e organizado a escola Canuto do Val, na capital paulista, é referência. Por lá, estudantes e professores criaram um estatuto próprio, estabeleceram regras para a campanha das chapas e implementaram um sistema de voto eletrônico. Além disso, não existe vencedor e derrotado, por lá todos só têm a ganhar. Os mais velhos ensinam os mais novos a não deixarem a peteca cair. Com tantos detalhes, a unidade escolar terá gremistas por gerações e gerações.

O Grêmio Estudantil vem sendo desenvolvido em uma constante há alguns anos, desde 2010. O principal objetivo da Canuto do Val era tornar o processo mais democrático, com participações que envolvessem toda a comunidade escolar. Com isso, desenvolveram um estatuto específico, aprovado em assembleia. Esse estatuto que rege a unidade escolar desde 2013 estabelece todas as ações e conduta do grêmio.

Mas, porque criar um estatuto próprio? O professor coordenador do grêmio Jose Souza, conhecido por todos como professor Zeca, explica. Segundo ele, “o estatuto federal é muito amplo, não retrata e não está centralizado na identidade da escola. E todas as escolas têm uma realidade própria. Então, na verdade, nós queríamos criar algo que fosse mais nosso’ esclarece. O professor afirma ainda que a Canuto do Val possui muitos alunos estrangeiros matriculados, “e o estatuto nos fortalece nessa questão das relações da comunidade escolar”, completa.

O documento criado pelos alunos e professores da escola é completo e prevê cada detalhe do processo eleitoral, que começa com uma reunião dos representantes de classe, onde se monta uma comissão eleitoral. Essa comissão cria uma agenda que deve ser seguida durante 2 meses, que é o período que a eleição acontece.

A comissão prevê data de inscrições das chapas, o processo de inscrição, onde os alunos apresentam a chapa montada, depois eles têm 15 dias para elaborar propostas de trabalhos que, antes de serem apresentadas, passam pela comissão para que sejam revistas e se encaixem nas regras de algo real e possível.

Sequencialmente inicia-se o processo de divulgação das propostas, onde os alunos podem se utilizar de diversos artifícios, como panfletos, palestras e redes sociais, por exemplo. Para auxiliar os concorrentes, a gestão anterior faz uma palestra para falar como eles realizaram seus trabalhos, em uma reunião aberta.

Tudo é finalizado com um debate de ideias, nos dois períodos, onde cada grupo pode defender seus conceitos e questionar os da chapa concorrente. Passadas 48 horas dessa fase, eles não podem fazer mais nenhuma divulgação. Aí vem a eleição, um processo tão democrático e organizado que dá gosto aos envolvidos.

O professor Zeca explica como tudo funciona no dia da votação. “Os alunos descem e escolhem seu candidato ou sua candidata numa urna eletrônica, tudo gerenciado pelos representantes de classe. Tem mesário, o aluno vota, ouve o barulhinho e volta pra sala de aula”, comenta. No mesmo dia sai o resultado. E na sequência, dois dias depois, tem a assembleia de composição de cargos.

Sim, os cargos só são definidos após a eleição. Antes, as chapas só apresentam o presidente como candidato, tudo previsto no estatuto. “Na candidatura apenas o cargo de presidente é definido. Os outros não, pois o estatuto prevê que sejam proporcionais. A chapa vencedora recebe o cargo de presidente, a segunda chapa vem com o vice-presidente. Na assembleia se faz a composição dos cargos, de acordo com a quantidade de votos que cada chapa concorrente recebeu”, elucida o professor coordenador do Grêmio.

A composição é da seguinte forma. A chapa que teve 65% dos votos, ocupa 65% das cadeiras. E assim vai. Quando não há candidatos o suficiente a cadeira pode ser preenchida por qualquer aluno que participou do processo eleitoral. Os alunos compuseram as cadeiras, o Grêmio foi instituído e agora eles passam por um processo de formação para saberem onde podem começar a atuar.

A chapa Nova Geração foi a vencedora na eleição, e sua presidente Karen Dias Santos, de apenas 15 anos, nunca havia participado ativamente de um Grêmio. “Mas não me amedronto, pois já trabalho bastante com grupos e me sinto à vontade em trabalhar com pessoas”, reforça a aluna.

Ela lembra que antes de montar a chapa sentou com outros alunos para conversarem sobre algumas necessidades da escola. “Então falamos sobre não trabalharmos para nós mesmos. Entendemos que o Grêmio não é o único a fazer as coisas, temos que envolver o maior número possível de alunos. Aí pensamos em propostas que envolvessem os estudantes, que dessem responsabilidades aos alunos e eles cuidassem da escola”, diz a presidente.

Entre as pospostas, Karen conta que os envolvidos pensaram em “reciclagem, por meio do entretenimento com jogos, no Meio Ambiente, onde vamos cuidar da horta, da limpeza da unidade, e queremos que os alunos nos ajudem com isso. Pensamos também na comunidade, então vamos fazer a campanha do agasalho e do alimento, onde distribuiremos cestas básicas”, relata. Karen explica que também devem acontecer competições interclasses, mas o principal é cuidar dos alunos. Segundo ela, os gremistas entendem que “é mais fácil cuidar quando somos cuidados”.

“E começar a utilizar esses mecanismos trouxe uma mudança muito grande de fortalecimento do Grêmio com outros colegiados, os professores, a direção e os funcionários em geral. Quem vem para o Grêmio não está focado no ego, está com foco na contribuição para a melhoria da escola”, finaliza Zeca.

E Zeca faz questão de reforçar que apenas presta um papel de apoio ao Grêmio. “O ideal é que o Grêmio proporcione que o aluno seja o protagonista. Então, eu oriento para que o estudante tenha esse protagonismo, essa atuação. Dou apenas o direcionamento e eles desenvolvem todas as ações”, acrescenta o professor.

“Greminho” Canuto do Val

Na escola estadual Canuto do Val os alunos gremistas entendem que o fortalecimento do Grêmio não está apenas nas tarefas desenvolvidas por cada gestão, mas também na garantia de que o Grêmio Estudantil continuará ativo por gerações.

Por conta disso, os estudantes mais experientes, geralmente formado pelos que cursam o Ensino Médio, desenvolvem o papel de multiplicadores de conhecimento aos alunos e alunas do Ensino Fundamental. Embora os pequenos não tenham um cargo na diretoria democraticamente eleita, se tornam guardiões da escola no período da tarde.

“Nós temos as crianças de tarde, e eles são muito empolgados. Conseguimos passar segurança a ponto deles quererem aprender. E a empolgação deles nos empolgou, o que já é um resultado do nosso trabalho”, explica Karen Dias Santos, presidente do Grêmio Nova Geração.

Para a presidente, o trabalho de fortalecimento “é importante porque eles estarão aqui amanhã. Eu vou me formar e eles vão continuar”, esclarece. Os “cargos” dos alunos menores são estabelecidos pelos alunos do período da manhã, que integram a diretoria gremista. “Eles se sentem responsáveis, importantes como tipo ‘eu sou do grêmio!’”, completa Karen.