O NINC – Núcleo de Inclusão Educacional da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo coloca à disposição dos professores da rede um conjunto de 11 videoaulas sobre Histórias e Culturas Indígenas na Escola. O material é conduzido pelo especialista no assunto, e ex-aluno da escola estadual paulista, professor Dr. Giovani José da Silva, que atualmente é docente da Universidade Federal do Amapá (Unifap) e da Universidade Federal Fluminense (UFF). As aulas estão disponíveis nesse link.
Os vídeos seguem como se o internauta estivesse em uma conversa direta com o palestrante, todos conduzidos de forma leve. A sequência temática e as sugestões de leitura, escolhidas de forma cuidadosa, trilham caminhos que apontam possibilidades diversas de se trabalhar as questões indígenas na sala de aula, a partir de um olhar “desnaturalizado”, que além de combater preconceitos e estereótipos, valoriza o que os povos indígenas têm de melhor a nos ensinar.
“E eu me coloco no lugar dos professores que estão na sala de aula, precisando de bons materiais, que dialoguem com eles, numa linguagem acessível. Esse professor já passou por formação, mas encontra dificuldade em encontrar um bom material”, explica doutor Giovani. E acrescenta: “hoje sou professor de ensino superior, mas já passei boa parte da carreira dando aulas em escola de educação básica”, afirma.
Em 2008, foi promulgada a Lei Federal nº 11.645, a qual estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e cultura afro-brasileira e indígena”. Todo o material das videoaulas está sendo preparado desde agosto de 2017, com vista à promoção dos 10 anos da Lei.
“A Lei existe porque os nossos currículos infelizmente sempre foram eurocêntricos, eles falam de uma história da Europa, que foi e é importante pra o Brasil. Mas, os europeus não foram os únicos a construir essa história. Ela foi escrita pelos negros e indígenas também”, ensina Giovani José da Silva.
Grande parte da população brasileira trata o indígena, equivocadamente, como sendo um povo de uma única cultura. Mas, de acordo com estudo de 2010 do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, existem no Brasil 274 línguas indígenas faladas por indivíduos pertencentes a 305 etnias diferentes. “O foco [do curso] não é a educação escolar indígena, mas o professor da educação básica, até porque há um desconhecimento muito grande sobre os povos indígenas”, complementa Julieth Aquino, técnica do Núcleo de Inclusão Educacional – NINC.
Desta forma, esperamos que os(as) docentes aproveitem e explorem as aulas e as sugestões de leitura, e que construam suas próprias práticas pedagógicas, críticas e reflexivas, sobre os povos indígenas e suas relações socioambientais e políticas.
Alunos de Escola Indígena viram professores
Para fortalecer a identidade dos povos indígenas, a Secretaria da Educação conta hoje com mais de 40 unidades de ensino indígena. Entre as escolas, a unidade de ensino Peguão Ty, que abriga estudantes do Fundamental e do Médio, no Vale do Ribeira, possibilita que crianças e adolescentes se formem sem ter que sair de suas localidades.
“Além dos estudantes não terem que ir até o centro do município de Sete Barras, que fica longe da aldeia, isso possibilitou que cinco jovens que concluíram seus estudos virassem docentes”, explica o professor de Linguagem e Código da Unidade, Celso Aquiles.
Como exemplo, Flávio Dita Benites se tornará professor de Ciências Humanas, História e Linguagem Materna após 13 anos de estudo na Peguão TY. “É uma grande oportunidade poder ajudar outros alunos, poder ajudar a preservar nossos costumes e ainda permanecer perto da minha família”, explica Benites.
O conteúdo aplicado nas salas de aula segue as diretrizes do Currículo do Estado de São Paulo, além de incluir aulas específicas sobre cultura da própria aldeia e outras tribos e do idioma Guarani.
Sobre o palestrante
Giovani José da Silva possui graduação e mestrado em História pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 1995 e 2004), especialização em Antropologia pela UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso, 2001), doutorado em História pela UFG (Universidade Federal de Goiás, 2009). Foi professor da UFMS e, desde 2013, é professor da Unifap (Universidade Federal do Amapá).
Foi pesquisador colaborador pleno do Departamento de Antropologia e docente colaborador do Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a Terras e Povos Indígenas, da UnB (Universidade de Brasília), onde realizou estágio pós-doutoral em Antropologia (2012-2013). Realizou um segundo pós-doutorado (2016-2017), em História, na Universidade Federal Fluminense (UFF).
Atualmente, mora no Amapá, onde tem contato com cinco povos indígenas que são da região e estudam na Universidade Federal do Amapá. Os povos são: Wajãpi, Palikur, Galibi Kali’nã, Galibi Marworno e Karipuna na Unifap/Campus Binacional, do Oiapoque (licenciatura Intercultural Indígena).
Antes, trabalhou entre os Kadiwéu do Pantanal de Mato Grosso do Sul, como professor (1997-2004), sendo escolhido o melhor professor da escola pública brasileira em 2001 (Prêmio Victor Civita – Professor Nota 10). Trabalho com populações indígenas há 27 anos, tendo convivido com Terena, Guató, Ofayé, Kinikinau, Bororo, Atikum e Kamba.