O primeiro dia de aula na universidade pode ser surpreendente. Como serão os colegas? Os professores? E as aulas? Nesta quarta-feira (05), Ester Zanini e Heloísa de Araújo, estudantes do 3º ano do Ensino Médio, sentiram na pele o que é essa sensação. Elas apresentaram sozinhas uma proposta de pesquisa no V Congresso Acadêmico Unifesp e tiveram um primeiro – mas impactante – contato com o universo científico.
O projeto de reutilização de garrafas PET no plantio e cultivo de plantas é desenvolvido no PEI (Programa Ensino Integral) Profa. Brisabella Almeida Nobre, na divisa entre a capital e São Caetano do Sul. É lá que as estudantes dedicam algumas horas do período escolar ao transformar simples garrafas em vasos ecológicos e reutilizáveis, que podem abrigar qualquer tipo de planta.
“Conseguimos controlar a temperatura e a água apenas com técnicas de recorte. Primeiro lavamos, cortamos a garrafa e montamos o vaso, que juntos criam uma estufa ecológica. Nossa primeira colheita foi de beterrabas e cenouras”, comemora Heloísa, que apresentou a experiência científica na UNIFESP de Diadema junto da amiga Ester. Com desenvoltura e pontualidade, elas fecharam o projeto em 14 minutos e ainda responderam sete dúvidas dos presentes.
A ideia do congresso é reunir iniciativas de fomento à pesquisa que acontecem no Ensino Fundamental e Médio da rede de ensino. O projeto de garrafas PET de Ester e Heloísa contou com apoio no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e do Programa Articulações, extensão da universidade que aproxima escolas, universidade e sociedade com projetos de pesquisa que tenham sinergia com a comunidade e o projeto de vida traçado pelos estudantes.
“Os estudantes fazem pesquisa científica como nós fazemos aqui na universidade. Correm atrás, elaboram textos de acordo com normas, são incentivados a falarem em público e defenderem suas ideias. É fundamental que isso seja ampliado para toda a rede e mostre ao jovem o quanto a vida acadêmica pode ser interessante”, explica a Eliane Cruz, docente da UNIFESP e coordenadora do Articulações. É ela que entra em contato e, como o próprio nome diz, articula a vinda dos estudantes até a universidade. “Abrimos nossa unidade para eles. Eles têm 15 minutos para apresentar a uma banca, que irá fazer perguntas. É tudo muito oficial”, explica.
Pesquisa científica nasceu em eletiva ofertada no PEI
Se hoje ganhou os corações e mentes da universidade, o projeto de reutilização de garrafas é uma prática antiga de Hélio Ramos, docente do PEI Brisabella Almeida Nobre. Professor de ciências da unidade, ele apresentou ainda no 6º ano do Ensino Fundamental a ideia de revolucionar o que é uma garrafa.
“A garrafa PET tem durabilidade, é firme, não pega cheiro e é barata de se produzir. É perfeita para a indústria, tanto que 70% do consumo de bebidas no mundo inteiro é feito nelas. O único ponto ruim é que polui o ambiente, e com esse projeto, resolvemos esse percalço e devolvemos à sociedade mais plantas”, explica o professor.
De boina na cabeça e com longos cabelos, Hélio foge do estereótipo do professor. Ele é quase um mentor dos jovens, e na eletiva na qual desenvolve a reutilização de garrafas, usa de artifícios pouco comuns para atrair a atenção e cativar. “Muitos diretores estranham porque não peço para o aluno pedir permissão para ir ao banheiro, por exemplo. Penso que eles são autônomos e devem ser tratados como tal”, pondera.
A eletiva de sustentabilidade é uma das mais concorridas na unidade, e teve estudante que saiu de escola e até voltou pensando nas aulas. Agora, a missão de Hélio é preparar os estudantes do Ensino Médio para a universidade. Formar um jovem mais antenado do mundo que o aguarda, sem aquela sensação mostrada no longa “O Mágico de Oz”, quando Dorothy deixa o conforto do Kansas e sê vê sozinha, dona do próprio nariz.
E dá certo. Heloísa já sabe o que quer fazer na faculdade: biologia. E Ester tem um caminho que surpreende de tão definido: “Pretendo fazer física ou engenharia, apesar de ser muito apaixonada por física. E quero fazer um mestrado em astrobiologia”, comenta.