As portas estão abertas e ninguém precisa de convite. Para participar do Escola da Família é só ir chegando, aprendendo, experimentando…
Silvânia Augusto Cardial tem um sonho e a possibilidade de realizá-lo foi retomada quando ela se inscreveu no Escola da Juventude (EJA), que tem classes funcionando na EE Luiz Gonzaga Pinto e Silva, na Zona Sul de São Paulo. Ela quer ser arquiteta e pelo gosto que tem por decoração, pode ser que se torne arquiteta de interiores. Aos 38 anos de idade, reconhece que esta é uma grande oportunidade para concluir o Ensino Médio, voltando inclusive à mesma escola onde estudou até a 5ª série e onde pode, agora, ter aulas nos fins de semana.
Se não fosse assim, voltar a estudar seria muito difícil, porque Silvânia tem três filhos e durante a semana não sobra tempo e nem há quem fique com as crianças. “Por isso que o Escola da Juventude é uma experiência maravilhosa, é uma realização. Além disso, com todas essas novidades do curso, como a videoaula e a informática, onde faço reforço de aprendizagem, posso levar o que aprendo aqui para dentro de casa, porque as crianças solicitam cada vez mais a gente”. A classe, com cerca de 25 alunos, a maioria mulheres, era o testemunho de que toda hora é hora. Mesmo num sábado friorento como foi o do dia 3 último.
De como um bolo pode ser mais!
Quem freqüenta o Programa Escola da Família, em qualquer unidade de ensino de São Paulo, pode ver cenas assim e relatos como o de Silvânia, a aluna de EJA. Ou conhecer Valdelaine Alves dos Santos, vice-diretora da EE José Porfírio da Paz, no Parque Novo Santo Amaro, que tem uma história sobre um bolo que já rendeu muito na sua escola! É o Bolo Peteleco, principal ferramenta para as professoras de Matemática, de Português e de Ciências passarem aos alunos noções de medidas de massa e líquido, de fermentação, custo de cada ingrediente e fixar de vez que xícara se escreve com x e não com ch, e que a palavra é proparoxítona.
Claro que a receita, aperfeiçoada pelo voluntário do Escola da Família, Paulo Paladini de Morais, foi parar nas casas dos alunos, porque eles aprenderam o passo a passo e queriam ensinar às mães e saborear a gostosura depois. As mães, por sua vez, quiseram saber mais e acabaram criando oficinas na escola, para aprender outras receitas, abrindo uma possibilidade de aumentar a renda familiar fazendo os quitutes para vender.
Oportunidade para trocar energia
Quem não quer pôr a mão na massa porque já está estressada demais, encontra conforto na massagem do SPA Urbano, montado no pátio da EE Luiz Gonzaga com muita criatividade. Carteiras arrumadas de maneira a formar uma maca, cobertas com colchonetes, fizeram o equipamento perfeito para Lúcia Gomes, graduada em Educação Física e há dois anos no programa, aplicar a massagem em Ana Francisca, num ambiente muito zen, com direito a música relaxante e incenso perfumado.
Ana não tem filhos na escola, mas ficou sabendo na comunidade que poderia receber massagem gratuitamente e foi lá conferir. Totalmente entregue às mãos cuidadosas de Lúcia, ela quase dormiu ali, tamanho o relaxamento que alcançou. “Estou sentindo um alívio total da tensão e essa oportunidade é maravilhosa”, desabafou Ana, com um sorriso enorme no rosto. A gratificação da massagista, que pertence à Equipe de Fortalecimento, não é menor nos serviços que presta nas áreas de saúde e esporte.
Para Lúcia Gomes, “como é uma troca de energia intensa, a gente precisa se preparar em todos os sentidos: desde as mãos limpas para tocar na outra pessoa até estar bem comigo mesma. Crio um ambiente propício, com a música e o incenso, e peço proteção para que a pessoa saia daqui mais relaxada”. Ela e mais dois professores, Wesley Carvalho e Désio Xavier, já chegaram a atender mais de 80 pessoas no SPA da EE Presidente Café Filho. Tamanha procura estimulou Lúcia a aprender mais e ela começou até a fazer outros cursos na área.
A alquimia das padarias
Terapia pode ser, também, combinar farinha, fermento, óleo e aí acrescentar manjericão, cheiro-verde, ou mandioquinha, ou cenoura… E daí criar pães em forma de rosca, de trança, ou esfihas que depois ganham recheio de carne moída ou de queijo e vão enriquecer mesas de quem, até bem pouco tempo, não sonhava com isso. A padaria artesanal faz das cozinhas das escolas um espaço alquímico e um dos redutos mais cheirosos e convidativos do Programa Escola da Família.
“As mães chegavam aqui dizendo que não sabiam fazer pão, mexer com a massa. Hoje elas vêm acompanhadas dos filhos e têm despertado para novas possibilidades, porque o que aprendem tem melhorado sua qualidade de vida”, destaca a coordenadora do Escola da Família, Cristina Cordeiro. Segundo ela, as escolas têm que fazer a padaria se autosustentar e para tanto elas buscam parcerias na comunidade, tentam sensibilizar os comerciantes. “Quando não conseguem, fazem mutirão e cada um traz um pouco dos ingredientes que serão usados, porque sabem que esse esforço tem sempre um resultado positivo”, assegurou a coordenadora.
As receitas
E para que ninguém fique com água na boca, passamos as receitas do Bolo Peteleco, da Esfiha e do Pão de Ervas, cedidas pelas cozinheiras da padaria artesanal, para que os amantes da cozinha testem suas habilidades.
Bolo Peteleco
Ingredientes – 03 xícaras de farinha de trigo; 02 xícaras de açúcar; 01 xícara de Nescau; 01 xícara de óleo; 02 xícaras de água; 02 ovos; 01 pitada de sal; 2 colheres (sobremesa) de fermento em pó.
Modo de fazer – Misturar a farinha, o açúcar e o Nescau e abra uma cova no meio. Coloque ali a água, o óleo e os ovos. Misturar tudo, mexendo bem, e acrescentar o sal e o fermento, e levar para assar.
Pão de ervas
Ingredientes – 02 ovos; 02 colheres (sopa) de açúcar; ½ copo de óleo; 01 colher (sopa) de sal; 02 copos de leite morno; 1 ½ envelope de fermento biológico seco; 1 quilo a 1 ½ de farinha de trigo, o suficiente para dar o ponto; 02 cebolas médias; 01 cabeça de alho; 01 colher (sopa) de orégano; ½ maço de salsinha; 01 galho de manjericão.
Modo de fazer – Bater tudo no liquidificador, menos a farinha, que vai sendo acrescentada aos poucos, até dar ponto de a massa não grudar nas mãos. Deixar crescer por 40 minutos, formar os pães a gosto, e levar para assar.
Esfiha
Ingredientes – 01 quilo de farinha de trigo; ½ copo de óleo; 01 copo de água; 01 copo de leite; 02 colheres (sopa) de açúcar; ½ colher (sopa) de sal; 2 envelopes de 11 gramas de fermento biológico.
Modo de fazer – Amassar bem os ingredientes, dando liga à massa. Fazer bolinhas, deixar crescer, abrir círculos com a massa na palma da mão e colocar o recheio de preferência.
Vera Souza Dantas