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quinta-feira, 08/03/2018
Arquivo Pessoal/Talita Brito
Notícia

Dos jogos escolares para o mundo: ex-aluna da rede dirige times de futebol infantil nos EUA

Talita Brito Pereira mora em Los Angeles e iniciou sua carreira no esporte na Escola Estadual Dr. Carlos de Campos, em Santo André

Talita Brito Pereira tinha 9 anos quando descobriu que levava jeito para o futebol. Na Vila América, bairro de Santo André onde morava, revolucionou a brincadeira de rua. Se antes, o encontro de crianças era para jogar bolinha de gude ou pedra papel e tesoura, a chegada dela colocou o futebol no centro da brincadeira.

Dois pares de chinelos demarcavam o gol. No final da tarde e começo da noite, o compromisso era certo: o encontro sagrado entre meninos e meninas para uma partida de futebol. Talita impressionava a todos com sua habilidades, dribles, agilidade e um amor sem igual pelo esporte.

Ainda na infância, começou a treinar em uma escolinha de futebol. Como naquela época não existia quórum feminino para montar um time, ela não via problema em ser a única mulher a jogar no meio dos meninos. Na Escola Estadual Dr. Carlos de Campos, onde estudava, começou a disputar os jogos escolares. “Eu lembro que foi uma das melhores fases da minha vida. Nós tínhamos um time muito bom, que sempre ganhava os jogos e o torneio estadual. A professora Rose era a nossa treinadora, ela se esforçava para treinar com a gente, levar a gente para os jogos. E a direção, que sempre nos incentivou, estava lá para nos assistir e receber o troféu com a gente”, relembra.

A partir daí, o esporte só abriu portas na vida de Talita. Aos 15 anos participou de uma etapa seletiva que levaria garotas brasileiras para jogar no Japão. “Eu era ‘fominha’ de bola. Não me importava onde eu estava jogando, eu só queria jogar. Eu jogava futebol 24 horas por dia e dividia o meu tempo entre estudar na escola, treinar na escola, treinar na escolinha de futebol e, despretensiosa, participar dessa seletiva. Acho que eu nem cheguei a falar para a minha mãe dessa seletiva. Eu simplesmente ia porque todo mundo ia e eu só queria um pretexto a mais para jogar. O meu desejo não era ir ao Japão. O meu desejo era jogar futebol”.

Se antes as habilidades de Talita chamavam atenção das crianças na rua e na escola, o seu contato com a bola despertou o interesse do treinador Arnaldo, responsável pela seleção do time japonês, que a convidou para passar uma temporada no oriente. O seu sonho de viver profissionalmente do esporte estava só começando.

“Eu lembro que eu cheguei em casa e falei para minha mãe e ela nem acreditou, e aí a gente marcou uma reunião com o Arnaldo e a minha família. Eu não  estava nem acreditando também. A primeira coisa que minha mãe falou foi: ‘essa menina joga bola o tempo inteiro, 24 horas por dia’, então olhou para mim e disse assim: ‘é isso que você ama, é isso que você gosta, então essa é a hora. Aproveita que está cedo, que você é nova, aproveita a oportunidade, então vai atrás do seu sonho’, relembrou. Talita conta que foi um processo bastante criterioso de pesquisa e preocupação, afinal, ela tinha apenas 15 anos. A maior exigência feita antes de assinar o contrato foi que Talita não parasse de estudar naquele ano em que estivesse fora do país.

“Então eu fui para o Japão. Joguei e estudei lá. Não sabia uma palavra na língua deles antes de ir, mas consegui me virar bem. Foi lá que aprendi muita coisa sobre a vida. Estar em um lugar tão diferente, com cultura diferente, longe da minha família. Não foi fácil, houve muita dificuldade, mas também houve muita história e coisa boa que me aconteceu. Cresci muito, não apenas no futebol, claro, mas pessoalmente falando”, disse.

Depois da temporada, de volta ao Brasil, a ex-aluna recebeu convite para retornar ao Japão, mas preferiu ficar. Ao longo dos anos, jogou em categorias profissionais e passou por times como São Bernardo, Palmeiras, Corinthians e Portuguesa. Quando estava na universidade, Talita representou o Brasil no Mundial Universitário, na Sérvia, segundo maior torneio do mundo, atrás apenas das Olimpíadas.

Influência no esporte

É verdade que Talita influenciava garotas para praticar o esporte no Brasil, especialmente na rua e na escola, quando disputava os jogos escolares. Mas a sua intervenção na vida de outros jovens ultrapassou fronteiras. Hoje, aos 30 anos, ela coordena um time infantil de garotas, um time infantil de meninos e é diretora do Academy, um programa de incentivo e imersão no esporte para crianças a partir de 8 anos, em Los Angeles, onde vive atualmente.

“É uma experiência indescritível. As minhas alunas procuram vídeos meus na internet, elas olham para mim e veem alguma importância, alguma inspiração. E tudo isso é graças ao esporte. Se eu cheguei ao Japão, aos Estados Unidos e se fui alguém no Brasil, isso tudo devo à minha paixão, ao futebol”.

Em 7 anos morando nos Estados Unidos, Talita experimenta o respeito pela mulher no esporte e a certeza de que escolheu o caminho certo. “Aqui, as pessoas aceitam que o futebol é para todo mundo e essa sempre foi a minha paixão e sempre será a minha escolha”.