Até o dia 22 de março, a EFAP- Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Professores recebe inscrições para o curso “Atendimento Escolar a Jovens e Adultos em Situação de Privação de Liberdade: Reflexões Teóricas e Práticas Docentes”. A iniciativa é inédita, e visa aperfeiçoar os conhecimentos dos educadores que atuam em classes EJA, de ensinos Fundamental e Médio, que funcionam nas unidades prisionais.
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De imediato, podem se inscrever os Professores de Educação Básica I e II, em exercício em classes nos estabelecimentos penais do Estado de São Paulo e os Professores Coordenadores das escolas vinculadas.
Os profissionais que realizarem o curso terão acesso a conteúdo, leituras e reflexões diversificadas, como videoaulas com profissionais especializados no tema. Dentre os especialistas, estão servidores da própria rede estadual, além de acadêmicos e pesquisadores, demonstrando a perspectiva teórico-vivencial em que se insere o curso.
“A proposta é que os cursistas possam desenvolver e consolidar competências e habilidades sobre o trabalho pedagógico e de gestão na modalidade EJA e as especificidades desta no contexto prisional. As discussões e leituras no âmbito político-didático-pedagógico, propostas ao longo do curso, visam subsidiar esse processo. É fundamental que os cursistas possam compartilhar as leituras e reflexões do curso com seus colegas, em momentos de formação e planejamento coletivo”, explica Carolina Bessa Ferreira de Oliveira, membro da Equipe Técnica do EJA Prisional e Sistema Socioeducativo do NINC/CGEB.
O curso será ministrado à distância, entre os dias 10 de abril e 3 de julho de 2018, em formato de estudos autônomos no Ambiente Virtual de Aprendizagem, com 90 horas de duração divididas em 6 módulos. A 1ª edição do curso visa formar 3.000 profissionais da Rede.
A formação contribuirá para a melhoria da prática docente e gestão escolar, promovendo competências e habilidades para que o cursista trabalhe temas referentes ao direito à educação, seus desdobramentos e especificidade no contexto do sistema prisional. Educação em Direitos Humanos e Reflexões Pedagógicas sobre a Docência na EJA nos Estabelecimentos Penais serão alguns dos temas estudados.
Posteriormente, as vagas remanescentes serão preenchidas entre os dias 23 e 29 de março pelos agentes de organização escolar, diretor, vice-diretor, diretor de Núcleo Pedagógico, dirigente, gerente de organização escolar, PC, PCNP, professores PEB I e PEB II e supervisor de ensino.
A importância do trabalho nas classes dos sistemas prisionais
A figura do professor é importante em todos os ambientes em que se encontra. Mas, histórias como a da educadora Maria Amélia Arruda Andrade Silva, que atua há 15 anos com reeducandos, dão um gosto todo especial à profissão. Como resultado do seu trabalho, atualmente, suas alunas, que antes eram semianalfabetas, conseguem ler os documentos de seus próprios processos penais e enviarem cartas aos seus familiares.
Especializada em alfabetização de pessoas em situação de privação de liberdade, foi responsável, durante 11 anos, pela formação de novos professores em unidades prisionais. Por precisar de um emprego de meio-período, suspendeu a atividade de multiplicação de profissionais e passou a se dedicar somente às alunas da Penitenciária Feminina de Campinas.
As estudantes têm idades entre 18 e 76 anos. Maria Amélia busca métodos para uma alfabetização tardia agradável e que dê protagonismo às reeducandas. “As minhas alunas são bem dedicadas”, diz a professora cheia de orgulho e continua: “explico que elas já estão privadas da liberdade, mas são livres para adquirir conhecimento e devem aproveitar esse tempo para aprender a ler, escrever, se comunicar”, afirma.
Objetos do cotidiano são utilizados para aprender a somar, dividir e subtrair. Bingo de letras, alfabeto ilustrado, livros e revistas para compreender a escrita e a leitura. Essas são algumas ferramentas usadas pela docente, que já ajudou muitas detentas a ler processos, mandados judiciais e, principalmente, escrever cartas aos familiares, em especial aos filhos.
“É difícil ensinar? Sim. E se torna mais difícil, pois elas têm muitos problemas e já estão mais velhas. Mas, quando as vejo progredir tudo é recompensado”, finaliza exaltando a relação estabelecida entre professoras e alunas.
Quem também merece destaque é o professor de Biologia e Ciências Clemilson Marques Pedrosa, da E.E. Romeu de Moraes. Ele leciona no CPD III de Pinheiros, em São Paulo. Com os reeducandos daquela unidade, Clemilson desenvolveu o projeto de aquaponia. Segundo ele, o projeto é importante por possibilitar contato dos reeducandos com a natureza, “mesmo em ambiente totalmente fechado por muros e grades”, comenta.
Aquaponia é um sistema de criação de peixes associado ao cultivo de hortaliças. As bactérias captam a amônia excretada pelos peixes e a transformam em nitrato e oxigênio, utilizados para fertilizar as plantas. Por outro lado, as raízes das plantas retiram as impurezas da água, permitindo a sobrevivência dos peixes. ”O ciclo é totalmente sustentável. Tudo colabora para a renovação da água, responsável pela vida dos peixes e pelo crescimento das hortaliças, que são orgânicas”, destaca o aluno Rafael Tadeu Toledo.
Projetos como esses fazem com que os reeducandos se desliguem por um momento do ambiente em que vivem e se aproximem mais de uma vida comum e saudável.