O banheiro pode ser um lugar de desabafo. Ou de um pedido de ajuda. Foi o que a coordenadora da Escola Estadual Profª. Maria Pia Silva Castro, em Franca, percebeu quando notou o número grande de mensagens tristes e negativas no banheiro feminino da unidade.
“Eu fiquei incomodada, com tristeza das frases. Pensei em colar aqueles adesivos na parede, mas ficaria muito caro e entrei em contato com grafiteiros, que me indicaram o Samuel”, conta Jaqueline Vieira, vice-diretora da unidade. A diretora chamou o artista visual Samuel Freiria para mudar o lugar, e inicialmente, tudo seria apagado. Professores, estudantes e pais do Programa Escola da Família pintariam as portas de branco para receber os novos desenhos.
Ao entrar no local para pensar a obra, o artista visual teve uma outra ideia. “Não vou apagar. Vou colocar respostas de apoio e manter o desenho para outras pessoas verem e deixar espaço para respostas também”, pontou Samuel. Casos de depressão e suicídio são tão atuais e reais que merecem atenção. Como está a cabeça dessa molecada para escrever esse texto?”, questionou o artista.
O trabalho consumiu quatro horas e teve como principal ponto criar empatia nos mesmos lugares que antes tinham mensagens negativas. Frases como “Depressão não é frescura”, “Fale, escreva, escute”, “Você é incrível”, “Você é linda”, “Você é especial”, “Você é corajosa” e “Girls power” foram pintadas nas portas e paredes do banheiro feminino.
A ação de Samuel acontece em meio à campanha “Setembro Amarelo”, que visa combater e prevenir tentativas de suicídio e conscientizar sobre a importância da saúde mental e da conversa para tratar sobre esses temas. Pai de uma adolescente, Samuel buscou inspiração na própria trajetória para grafitar a escola. “Pensei em algo que as estudantes pudessem observar no dia-a-dia. Tenho três filhas e pensei em algo que elas pudessem ler”, relata.
Outro ponto da obra é criar um espaço de alerta contínuo, e não lembrado apenas durante Setembro. “Somente no Brasil, uma pessoa morre por suicídio a cada 45 minutos. As taxas de suicídio são maiores nas sextas, sábados e domingos, quando o jovem se distancia de seu cotidiano escolar”, pontua Rosimeire Garcia, psicóloga do Centro Paula Souza. Já a professora Sandra Mazotte, que comanda ações como essa em Santo André, alerta para a sequência do trabalho: “Esse tema precisa ser trabalhado o ano todo, num esforço contínuo de todos, não apenas em um mês ou em um dia”, explica.
A arte acolhedora e empática de Samuel não ganhou apenas as redes sociais, onde teve grande repercussão, mas já chamou a atenção de outras escolas, não apenas em Franca. Um trabalho voluntário e pequeno, mas que pode ter impacto profundo no ambiente escolar.