Um livro conta histórias. Reais ou imaginadas, simples ou intricadas, todo livro narra a história de algo ou de alguém. Com início, meio e fim e um ponto de vista, geralmente do narrador. Foi com isso em mente que a professora Mariana Almeida pensou num jeito diferente de fazer os alunos da Escola Estadual Prof. José Pinto do Amaral, em Mairinque, se interessarem pela leitura: eles mesmos contariam essa história.
Chamado de “Livro Vivo”, o projeto foi desenvolvido durante o ano de 2017, numa eletiva, e vem sendo repetido para todas as turmas de lá para cá. Na Prof. José Pinto do Amaral, as eletivas são ofertadas no início de cada semestre e escolhidas pelos próprios alunos, dentro do sistema integral de ensino. Os encontros eram semanais, com duração de uma hora e vinte minutos, e tinham sempre o mesmo roteiro.
“Em cada encontro, iniciávamos contando uma história, da mesma forma como fizemos na apresentação do projeto. Percebemos que essa estratégia aguçava ainda mais o interesse dos alunos pela arte de contar histórias”, conta Mariana. Cada estudante tinha que continuar a história anterior, formando um grande livro e dando sequência na lógica narrativa de cada conto. “É como se fosse um livro de histórias sem fim, apenas com a imaginação de cada jovem”, explica a professora.
A aplicação do projeto foi dividida em quatro etapas: autoconhecimento, interação, criação e apresentação. Durante o desenvolvimento das etapas, as atividades propostas tinham níveis crescentes de dificuldade. “Nas atividades individuais de escrita, identificamos os alunos que possuíam dificuldades em língua portuguesa, mas foram em frente, realizaram as atividades com suas limitações e aprenderam com o erro”, explica a professora, que orientou todo o projeto na escola.
Além da originalidade da ideia, o projeto ganhou a escola pelas surpresas e boas histórias que surgiam a cada aula. Uma aluna da 2ª série C (anexo 1) contou a história “O corvo e a borboleta”, mas de uma forma diferente. “Ela usou a história para contar de forma sutil a triste realidade que vive em família. Na apresentação oral da sua história todos se emocionaram”, explica Mariana. “O mais gratificante foi perceber que despertamos nessa aluna uma arte que estava escondida, que ela não imaginava ter”, relata. A aluna se apaixonou tanto por escrever histórias de vida que acabou fazendo duas, uma relatando sua família e outra uma amizade.
Outras histórias do projeto “Livro Vivo” vieram de um aluno da 3ª série B e uma aluna da 3ª série A, que apresentaram a história “Uma chapeuzinho vermelho” de Marjolaine Leray. O aluno relatou que as atividades da disciplina eletiva fizeram com que ele perdesse um pouco a vergonha e aprendesse a falar em público. “Estimular que estudantes se expressem da melhor maneira possível é uma habilidade socioemocional fundamental para a vida adulta. Boas práticas como essa são fundamentais para esse tipo de aprendizagem e serão destaques da Educação a partir de 2020, com o Inova Educação”, pontua o secretário executivo Haroldo Rocha.
Mesmo com o fim das aulas – e da eletiva, o livro do projeto “Livro Vivo” não teve fim. Ele será continuado no ano que vem, quando a escola novamente ofertará a eletiva para as novas séries, que usarão a criatividade e a imaginação para provar que escrever um livro é muito mais acessível do que parece.