São mais de 500 escolas de tempo integral na rede estadual que desenvolvem trabalhos de pré-iniciação científica com os estudantes. A prática introduz os alunos nas pesquisas acadêmicas e na prática em laboratórios. Geralmente, os trabalhos são iniciados em cima de um tema de interesse em comum dos estudantes, e muitos foram reconhecidos em feiras locais e de fora do país.
A E.E. Afonso Cáfaro, em Fernandópolis, é referência no assunto. Funciona no formato de Programa de Ensino Integral desde 2013. Inicialmente, foram sete projetos realizados. Atualmente, esse número passou dos 20 projetos. Além da iniciação científica, a unidade promove atividades de demonstração que culminam em uma grande Feira de Ciências que movimenta todas as escolas da cidade [municipais, estaduais e particulares].
Os projetos vêm surpreendendo e muitos alçaram voos internacionais. Este ano, um dos finalistas na categoria Júnior da FeCEESP (Feira de Ciências das Escolas Estaduais) será apresentado na Argentina. A pesquisa, dos estudantes de 12 a 13 anos, sobre o uso de Mentha Villosa no combate ao chulé será participará do Foro de Ciencias y Civilización. Já o trabalho sobre o uso de garrafas PET trituradas em massas de cimento, realizado por alunos do Ensino Médio, será exposto na mostra Genius Olympiad, em Nova York.
“É fantástico. Primeiro pelo protagonismo que eles apresentaram na pesquisa. Com isso, melhoram na sala de aula, pois foi um trabalho interdisciplinar”, explica a professora Cristiane Pinheiro, orientadora do projeto que desenvolveu o talco para os pés, na E.E. Afonso Cáfaro. Ao falar sobre a evolução dos estudantes, Cristiane relata que “o olhar deles é de espanto, dizem ‘nossa, realmente dá certo!’. Eles conseguiram verificar que toda a pesquisa rendeu algo na prática, e ficaram encantados com o processo”, finaliza a aluna.
Igor Lopes de Lucca, que tem 12 anos e estuda na E.E. Afonso Cáfaro, relata que “foi uma experiência muito boa, pois desde a primeira feira não acreditava que fosse participar de tantas atividades”. Igor de Lucca gostou muito de participar, por exemplo, da MostraTec, pois, segundo ele, houve a “oportunidade de conviver com outras pessoas de outras países. Eu fiz amizades com gente da Colômbia, do Equador”, finaliza.
Sua colega de projeto, a pequena Shamyra Abadia Zanzea Curã, também de 12 anos, diz que o cheiro do açafrão “não é lá essas coisas”, mas a mistura com a hortelã caiu bem. A estudante explica que, por enquanto, o grupo está focando no aperfeiçoamento do talco. “A gente está pensando em fazer um projeto para tirar a coloração do açafrão. Para que o amarelo não tinja o calçado”, esclarece.
Além das ciências exatas
Indo na contramão da maioria dos projetos de iniciação científica, o professor Rodrigo de Carvalho, da E.E. Alexandre Von Humbold, na capital, decidiu priorizar os temas relacionados às ciências humanas. “A ausência de trabalhos de humanidades me chamou a atenção. Percebi que não temos o costume de estimular o desenvolvimento de pesquisas humanas dentro da escola. Foi a oportunidade que surgiu para mudar”, completa.
Foi assim que nasceu a revista ÓIA – Opinião e Informação Acadêmica, que possui até mesmo um registro ISSN, registro internacional de publicações periódicas. A revista, que já conta com seis edições, é publicada em plataforma online, com textos a respeito das pesquisas desenvolvidas na disciplina. Temas como feminismo, cultura, racismo e cultura afro-brasileira têm ganhado destaque na publicação. Os projetos de pré-iniciação científica da unidade são coordenados pelos professores de História e Filosofia.