Unidades das aldeias Renascer e Boa Vista do Promirim, em Ubatuba, terão prédios pré-fabricados desmontáveis de madeira
Cartilhas de alfabetização em guarani estão sendo produzidas pelos próprios índios e devem ser distribuídas ainda neste ano
Alunos e professores de escolas indígenas comemoram o Dia do Índio com atividades culturais e esportivas nesta semana
Os estudantes indígenas das escolas estaduais Aldeia Renascer e Aldeia Boa Vista do Promirim, situadas no município de Ubatuba, terão à disposição novos prédios a partir do próximo ano. Com o objetivo de fortalecer a educação indígena, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo vai disponibilizar ainda uma cartilha de alfabetização em guarani aos 737 alunos das 16 escolas estaduais voltadas à etnia.
As novas unidades escolares das aldeias Renascer e Boa Vista do Promirim, que atendem, juntas, desde 2004, a 114 alunos, estão em fase de construção. Somente na etapa de fundação dos dois prédios, estão sendo investidos R$ 802 mil. As obras deverão ser concluídas até o fim deste ano. A previsão é que os novos prédios passem a funcionar no próximo ano.
Para a construção das unidades está sendo utilizado um modelo pré-fabricado desmontável de madeira, padrão que atende à limitação de aldeias indígenas que não possuem registro da terra e finalização de sua demarcação pela Funai (Fundação Nacional do Índio). Como o processo de licitação é extenso, o Ministério Público e a Funai, em conjunto com as secretarias estaduais da Educação, Meio Ambiente e Justiça, encontraram no modelo pré-fabricado uma solução para melhor atender à comunidade indígena.
A planta desse modelo de escola prevê a construção de salas de aula, uma sala de múltiplo uso e um galpão, que são separados por uma porta de correr permitindo que o ambiente dobre de tamanho quando aberta, criando a possibilidade de diversos tipos de uso. Além disso, os ambientes das salas serão equipados com móveis que possibilitam a criação de vários layouts.
Cartilha em guarani
Até o fim deste ano, os alunos indígenas da rede estadual deverão passar a contar com uma cartilha de alfabetização em guarani, que está sendo feita pelos próprios índios com supervisão de um linguista especializado. O material é inédito no Estado e deverá ser usado nas 16 escolas estaduais de origem guarani existentes na rede estadual. A iniciativa valoriza e reafirma as identidades étnicas e culturais das comunidades com o propósito de garantir educação de qualidade aos estudantes indígenas respeitando as especificidades de cada tribo. A meta é que o material seja publicado ainda neste ano.
Dia do Índio
Em alusão ao Dia do Índio, comemorado amanhã (19/04), escolas indígenas localizadas nos municípios de Avaí, Bertioga, Braúna, Itaporanga e no Parque do Jaraguá, na capital paulista, terão uma programação especial nesta semana.
Até domingo, alunos e professores da Escola Estadual Indígena Aldeia Erekuá, da etnia terena, em Avaí, farão exposição de cartazes sobre a história da aldeia e de artesanato indígena e apresentações de danças típicas. A comemoração incluirá ainda barracas com comidas típicas e atividades esportivas indígenas como corrida, tiro de arco-e-flecha a distância, arremesso de lança a distância e torneio de futebol.
Na Aldeia Ribeirão Silveira, em Bertioga, na Escola Estadual Indígena Txeru Ba` e Kua-i, da etnia guarani, também haverá, entre amanhã e sábado, exposição de artesanato, apresentações culturais e musicais, além de atividades esportivas como tiro de arco-e-flecha a distância, haindú (futebol de cabeça), ronkrã (jogo de duas equipes com bastão e bola) e corrida de tora. Para Cristine Matias de Lima, professora de filosofia, história e sociologia da unidade, “a data é importante para mostrarmos para a sociedade brasileira a rica cultura e diversidade indígena do Brasil e o quanto somos guerreiros perante toda a modernidade existente na sociedade de hoje”.
Amanhã, na Aldeia Icatú, em Braúna, a comunidade da Escola Estadual Indígena Índia Maria Rosa, da etnia terena e kaingang, fará apresentações de artesanato, danças e coral, além de trilha ecológica. Na Aldeia Tekoa Porã, em Itaporanga, a Escola Estadual Indígena Tekoa Porã também terá amanhã atividades culturais e esportivas, como tiro de arco-e-flecha, zarabatana, corrida de tora e futebol.
Na quinta e sexta-feira, haverá festa também na Escola Estadual Indígena Djekupe Amba Arandy, da Aldeia Tekoa Ytu, localizada no Parque do Jaraguá, na capital. A programação inclui apresentação de danças de adultos e crianças, coral infantil, exposição da história e da maquete da aldeia e região, oficinas de artesanato, literatura indígena e jogos. Haverá ainda palestras da história indígena e comidas típicas. “É importante a comemoração para que as pessoas tenham conscientização da existência da cultura indígena no Brasil”, diz a vice-diretora da unidade, Jatiaci Fernandes Martins.
Sobre a Educação Indígena
A Educação Escolar Indígena é uma modalidade de ensino bilíngue e intercultural, voltada aos povos indígenas, promovida pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo com o objetivo de recuperar as memórias históricas indígenas, reafirmar suas identidades étnicas e valorizar línguas e ciências. Para atender aos professores e estudantes indígenas com qualidade, a Pasta mantém desde 1997 um núcleo voltado especificamente à educação indígena.
Entre os 4,2 milhões de alunos da rede estadual, além dos 14 mil estudantes índios no ensino regular, 1.150 descendentes de povos indígenas das etnias guarani, tupi-guarani, terena, kaingang e krenak estudam em escolas indígenas. A rede estadual de ensino dispõe de 31 escolas indígenas e de material didático especializado, produzido por professores formados pelo Magistério Intercultural Superior Indígena da USP (Universidade de São Paulo). As aulas são ministradas por professores indígenas que foram graduados em curso especial de formação intercultural em nível médio e superior. O material é bilíngue e diferenciado para cada uma das cinco etnias, com o objetivo de facilitar a alfabetização tanto no idioma materno como na língua portuguesa.
Nas classes indígenas, os estudantes têm acesso a todas as disciplinas do currículo escolar. As matérias, porém, são abordadas a partir da cultura de cada tribo e para isso são ministradas por professores das próprias aldeias. Assim, além dos temas do currículo convencional, os alunos também estudam questões relacionadas à sua cultura. Em sala de aula, os docentes transmitem a importância da preservação da história e da tradição dos povos indígenas.
As escolas indígenas do Estado oferecem Educação Básica, que compreende a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, que está dividido em Ciclos I (1º ao 3º ano), II (4º ao 6º ano) e III (7º ao 9º ano). O Ciclo IV refere-se ao Ensino Médio. As unidades estão distribuídas nas regiões das diretorias de ensino de Bauru, Caraguatatuba, Itararé, Miracatu, Penápolis, Registro, Santos, São Paulo (diretorias Norte 1 e Sul 3), São Vicente e Tupã.