De um lado, o aluno sem recursos consegue fazer uma faculdade. Do outro, o Programa Escola da Família, que completa dois anos em agosto, passa a contar com educadores qualificados nas atividades desenvolvidas nas escolas estaduais nos finais de semana. Uma idéia simples, mas muito eficaz.
Graças ao projeto Bolsa-Universidade, iniciado em 2003, 28 mil ex-alunos da rede pública de São Paulo estão tendo a possibilidade de prosseguir seus estudos no Ensino Superior. É muita gente: as três universidades estaduais paulistas oferecem, juntas, pouco mais de 18.000 vagas por ano em seus vestibulares.
“Sem a bolsa, eu não poderia cursar uma faculdade. Teria que largar os estudos e trabalhar”, diz Rafael Claudino Ramires, que está no 2º ano do curso de Educação Física. Rafael, 20 anos, participa do Escola da Família desde abril do ano passado dando aulas de caratê para alunos da Escola Estadual Missionário Manoel de Melo, em Itaquera, aos sábados e domingos.
Além da possibilidade de poder cursar uma faculdade, ele vê outros benefícios no programa: “Trabalhando com os alunos, você consegue uma formação extra e isso vai me ajudar na vida profissional. Para a escola também é bom, porque as atividades do Escola da Família ocupam o tempo ocioso dos alunos com coisas positivas”, diz Rafael, que mesmo depois de formado pretende continuar atuando como voluntário.
Um diferencial importante do programa é o fato de o aluno não receber a bolsa como um favor do Estado, mas sim como contrapartida da sua atuação no Escola da Família, um programa que abre as escolas à comunidade nos finais de semana promovendo atividades culturais, esportivas, de lazer e para a geração de renda. A Secretaria de Estado da Educação paga 50% da mensalidade do curso superior, até o limite de R$ 267, e a universidade ou faculdade parceira cobre o restante.
Ao todo, são 3.292 cursos oferecidos por 335 instituições conveniadas. A contrapartida é que o bolsista desenvolva atividades de recreação, reforço escolar, esportes e qualificação profissional nas escolas estaduais nos finais de semana. “Além de oferecermos um espaço de convivência e lazer para a comunidade do entorno escolar, integrando pais, filhos e educadores, estamos criando oportunidade para milhares de jovens continuarem seus estudos dentro da política pública de inclusão social do Governo Alckmin”, afirma o secretário da Educação, Gabriel Chalita.
Para a maioria dos bolsistas, o programa representa a única oportunidade de acesso ao curso superior. Josemaria Pereira Santos, 27 anos, estava prestes a desistir do curso de Enfermagem porque não tinha condições de pagar a faculdade. “A bolsa foi a minha salvação”, diz Josemaria, que trabalha na Escola Estadual Pedra Branca, em Juquitiba, na região Sul do Estado de São Paulo.
Lá, ele cuida de atividades de recreação com crianças de 4 a 12 anos e colabora na alfabetização de adultos. Também participa de rodas de conversa com adolescentes, tratando de temas de interesse dos jovens. “A escola está em uma região muito carente, com muitos problemas. Se cada um fizer um pouquinho, é possível melhorar a situação”, diz Josemaria.
Aluno do 2º ano do curso de Direito, Renato Marangoni Alves de Miranda, 20 anos, destaca as experiências vividas como educador na Escola Estadual Exército Brasileiro, na zona leste de São Paulo. “Ter contato com alunos da periferia é uma experiência que enriquece muito. Além de ensinar, você aprende”, diz Renato. “Acho o programa muito bom. Conheço muita gente que, sem a bolsa, não teria a oportunidade de fazer uma faculdade”.
Pedagogia, Administração de Empresas, Letras, Educação Física e Matemática são os cinco cursos com o maior número de bolsistas no programa. Ao lado dos educadores profissionais e dos voluntários, os bolsistas têm sido fundamentais para o sucesso do Escola da Família, que apresenta resultados promissores.
Desde sua implantação, o programa, que tem a parceria da Unesco, dos institutos Ayrton Senna e Faça Parte e do Fundo Social de Solidariedade, já alcançou 127 milhões de participações. Foi decisivo na redução dos índices de violência nas escolas em 35%, entre agosto de 2003 e agosto de 2004. Também propicia um maior envolvimento dos educadores com os alunos e suas famílias, a recuperação do espaço físico escolar e o resgate da convivência familiar na comunidade.
Para se candidatar à bolsa
Os requisitos para se candidatar a uma das bolsas do programa são:
· ter cursado os três anos do Ensino Médio na rede estadual paulista;
· estar regularmente matriculado em curso de graduação de Instituição Privada de Ensino Superior conveniada com o programa;
· não estar recebendo outro benefício para custeio da mensalidade do curso superior;
· ter disponibilidade para participar de atividades do Programa Escola da Família, trabalhando 16 horas por semana nas atividades realizadas aos finais de semana nas escolas públicas estaduais.
Como a idéia é beneficiar alunos com menor poder aquisitivo, a renda mensal do candidato e de sua família é critério de desempate na classificação.
Os candidatos devem se inscrever no site www.escoladafamilia.sp.gov.br entre os dias 1º e 15 de cada mês e levar a documentação comprovando sua situação sócio-econômica e acadêmica à Diretoria de Ensino da região onde pretende atuar. Dúvidas podem ser esclarecidas no telefone 0800-7700012, inclusive aos finais de semana.
Ariel Kostman