A construção civil está passando por constantes transformações, com novas tecnologias relacionadas a produtividade e sustentabilidade da obra. Conscientes das tendências do setor e da crescente necessidade de reduzir o déficit habitacional, otimizar custos e reaproveitar resíduos, estudantes da Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Jacareí mergulharam em técnicas milenares de construção e desenvolveram o projeto Bioconstrução: uma alternativa ecológica e sustentável.
Tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) dos alunos Amanda Alves e Charles Cordeiro, do curso superior de tecnologia de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, o projeto foi realizado com a Secretaria de Meio Ambiente do município. A parte prática do estudo incluiu a construção de uma casa de apoio, no Viveiro Municipal Seo Moura.
Construído com tijolos de adobe, material milenar e 100% natural, o local será um espaço dedicado a atividades de educação ambiental, minhocário, armazenagem de ferramentas e plantio de mudas. Na construção, os estudantes utilizaram apenas matérias-primas disponíveis na região, como areia, argila, palha e água, além de embalagens pet, de vidro e longa vida.
Um dos benefícios do uso do adobe é a sua alta capacidade de absorção da umidade, que ajuda a combater o mofo e a melhorar o conforto térmico. Além da economia nos custos de construção em cerca de 30%, esta técnica garante também redução de gastos futuros nas contas de energia e água.
Conforto e economia
O professor e orientador do projeto, Mário Sóleo, destaca a eficiência energética do telhado confeccionado com embalagens pet – tecnologia conhecida como “teto verde”. “Como 80% do calor de uma casa vem pelo telhado, o uso desse material na sua estrutura regula a temperatura e cumpre a função de isolante térmico”, explica. Ainda segundo o educador, quando a temperatura externa está elevada, o ambiente interno fica mais fresco e quando esfria, a casa permanece aquecida.
Outra vantagem do uso do adobe em relação aos materiais convencionais é que ele é à base de argila – material artesanal que substitui insumos como o cimento de origem química. Além da alta resistência do material já testada pelo professor: “Fizemos testes de compressão com o tijolo de adobe e comprovamos que ele é cerca de quatro vezes mais resistente se comparado com outros aglutinantes, como o cimento, por exemplo”, explica.
A aplicação de adobe nas construções ainda sofre um certo preconceito porque o aparecimento de rachaduras atrai insetos como o barbeiro. A pesquisa dos estudantes para o TCC identificou algumas práticas de construção aplicadas com o intuito de evitar esse tipo de problema. A colocação de beirais maiores e baldrames de pedra, por exemplo, são alternativas que podem aumentar a proteção das casas contra a chuva e a umidade do solo, garantindo mais durabilidade e segurança da edificação.
A bioconstrução é muito difundida em outros países, como na edificação de escolas na Áustria e Indonésia, onde são usados taipa de pilão e bambu. Na Colômbia, é comum a aplicação desse sistema na construção de pontes. Pelo baixo custo, essa é uma técnica aplicada em um terço das edificações no mundo, seguindo o princípio de adequação ao clima, geografia e cultura locais.
Técnicas de bioconstrução:
Pau a pique – montagem com barro e bambu
Pet a pique – uso de embalagens pet e longa vida para dar estrutura ao adobe
Telhado verde – teto confeccionado com embalagens pet e longa vida que garantem conforto térmico
Tijolos adobe – tijolo feito com areia, argila, palha e água
Geotinta – tinta preparada à base de argila com opções de pigmentação para aplicação em paredes