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quarta-feira, 26/07/2006
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Gianfrancesco Guarnieri também será homenageado com nome em escola estadual da Mooca

Depois de Raul Cortez será a vez do ator italiano que adotou o Brasil como pátria ser lembrado pelo Estado Outro grande nome da dramaturgia brasileira deixou o cenário teatral […]

Depois de Raul Cortez será a vez do ator italiano que adotou o Brasil como pátria ser lembrado pelo Estado

Outro grande nome da dramaturgia brasileira deixou o cenário teatral mais triste com sua partida. Estamos falando de Gianfrancesco Guarnieri, de 71 anos, que faleceu no último sábado, dia 22, de insuficiência renal.

Depois de Raul Cortez, de 73 anos (falecido dia 18 de junho) que teve seu nome dado à ex Escola Estadual da Lapa, agora será a vez do italiano nascido em Milão, e trazido ao Brasil com três anos de idade, ser reverenciado com o uso do nome dele para batizar a Escola Estadual da Mooca.

O decreto que ordena a mudança de nome foi assinado pelo governador Cláudio Lembo nesta segunda-feira, dia 24, alterando o nome da Escola da Mooca, no Distrito do Brás, para Escola Estadual Gianfrancesco Sigfrido Benedetto Martinenghi de Guarnieri.

A escola

A unidade escolar criada em maio de 1996 fica na Rua Itapira número 183, no bairro da Mooca. Atende ao todo 882 alunos distribuídos em 28 classes. São turmas do 1º ciclo do ensino fundamental (1ª a 4 ª séries). Além do laboratório de informática, a escola conta com salas de leitura, tevê e vídeo.

A vida e a obra do artista

Nascido em Milão em 1934, Gianfrancesco Guarnieri veio para o Brasil três anos depois, junto com a família. Morou no Rio de Janeiro até 1953, quando decidiu se mudar para São Paulo, onde participaria da encenação de “Está lá fora um inspetor, de Priestley” no Teatro Paulista do Estudante. A atuação lhe valeu o Prêmio Arlequim, do Festival de Teatro Amador.

Gianfrancesco Guarnieri atuou profissionalmente pela primeira vez em “Escola de maridos”, de Molière, no Teatro de Arena. Pouco tempo depois, notícia publicada nos jornais de 22 de fevereiro de 1958 indicava a estréia, no mesmo Teatro de Arena, da peça “Eles não usam black tie”, do jovem autor Gianfrancesco Guarnieri, à época com somente 23 anos de idade. Era o início da carreira de dramaturgo.

No cinema, seu primeiro trabalho como ator foi em “O grande momento”. Ele dizia que, como autor, preferia o teatro, pois a TV acaba criando um roteiro ritmado pela opinião pública. O domínio total sobre o texto sempre foi a tônica de seu trabalho. Entre as peças que escreveu estão: Gimba, A semente, Arena conta Zumbi, Um grito parado no ar, O filho do Cão e Marta Saré. Como ator, Gianfrancesco Guarnieri recebeu o Prêmio Molière pela atuação em “Castro Alves pede passagem”.

Foram mais de 20 peças, sem contar episódios para casos especiais ou seriados. Recebeu quatro prêmios Molière. Filho de um maestro e de uma harpista, tinha ouvido musical e foi parceiro de grandes compositores, criando canções para musicais

Na televisão

Guarnieri integra uma geração de atores que ajudou a televisão a dar os seus primeiros passos, seja no Grande Teatro Tupi ou nas primeiras novelas. Quem não se lembra do personagem Tonho da Lua, da novela Mulheres de Areia, revivido anos depois com Marcos Frota no mesmo papel? Igualmente inesquecível o Jejê, apelido de Jerônimo Machado, trambiqueiro da novela Cambalacho, na qual contracenava mais uma vez com Fernanda Montenegro. Os muito jovens devem se lembrar de sua participação especial na novela Terra Nostra, como o “pai italiano” da Giuliana, vivida por Ana Paulo Arósio.

Um marco na história do cinema nacional

No clássico Eles não Usam Black-Tie, a matriarca Romana foi interpretada por Lélia Abramo na primeira montagem teatral; por Fernanda Montenegro no cinema; e por Ana Lúcia Torre em 2001; em uma das recentes montagens da peça.

A obra fez com que a greve de operários subisse à cena pela primeira vez no País e lhe valeu, entre outros, o Prêmio Governador do Estado de revelação de autor e o Prêmio APCA de ator. O sucesso se repetiria 22 anos mais tarde, com a adaptação cinematográfica dirigida por Leon Hirszman. O filme recebeu seis prêmios nacionais e dez internacionais, entre eles o Leão de Ouro para Leon e Guarnieri. Se na primeira montagem teatral ele interpretou o filho fura-greve Tião, que trai os interesses coletivos em busca da solução individual, no filme ele assumiu o papel de Otávio, o pai, operário e líder sindical com um vasto currículo de lutas e prisões.

Um desbravador

Assim que chegou a São Paulo, Guarnieri decidiu investir no talento que causou sua expulsão no colégio. Em 1955, ajudou a fundar o Teatro Paulista do Estudante e ganhou seu primeiro prêmio de ator como protagonista da peça Está lá Fora um Inspetor, de Priestley. Um ano depois, em 1956, entrou para o Arena, onde também ganhou um dos mais cobiçados prêmios da época, o APCA de revelação de ator no papel de George na peça Ratos e Homens, de Steinbeck, dirigida por Augusto Boal. Na mesma época foi chamado pelo diretor Roberto Santos para fazer sua primeira atuação em cinema, no filme O Grande Momento.

Depois do estrondoso sucesso de Eles não Usam Black-Tie, nunca mais parou. Gimba, A Semente, Ponto de Partida, O Filho do Cão, Marta Saré, Castro Alves Pede Passagem, Arena Conta Zumbi e Arena Conta Tiradentes – essas duas últimas escritas em parceria com Boal – Um Grito Parado no Ar. Foram muitas as peças, em que ele também integrava o elenco, sempre em boas atuações.

A despedida

O último trabalho dele foi à televisão. Na novela Belíssima, da Rede Globo, viveu o italiano Peppe, diretor de uma companhia teatral. Mas a participação dele na trama foi drasticamente prejudicada pela doença. No último capítulo da novela, uma linda homenagem ao ator: na trama, o personagem liga para a casa de Murah e Katina, e ganha aplausos emocionados de toda a família. Carinho escrito por Silvio de Abreu, que sempre teve Guarnieri no elenco de suas principais tramas.