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quinta-feira, 11/07/2019
Boas Práticas

A história do estudante que usa canoagem para se tornar líder e disputar campeonatos

Aos 16 anos e cursando o 2º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Gabriel Ribeiro dos Santos, em Ilhabela, Flávio Logam dá exemplo de cidadania e liderança para as comunidades tradicionais caiçaras

“Lá na comunidade, ninguém sabe quem é Neymar. Não tem um torcedor do Corinthians, Palmeiras ou do Santos. O ídolo de todo mundo é o Gabriel Medina”. É assim que o professor Eduardo Carlos Almeida resume a paixão pelo surfe em uma das comunidades caiçaras de Ilhabela. Dentro de poucos meses, um dos filhos mais ilustres do lugar disputará o campeonato sul-americano de Va’a, na Ilha da Páscoa, no Chile, em novembro.

Estudante da rede estadual, Flávio Logam está no 2º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Gabriel Ribeiro dos Santos e sabe o que é disputar campeonatos. Desde os dez anos, ele concilia os estudos na unidade com competições de canoagem e Va’a, modalidade de canoagem conhecida pela remagem rápida. “Meu filho sempre se destacou na modalidade. Eu passava os treinos e ele começou a se desenvolver, e agora pegou a canoa havaiana, que levou para a categoria V1, que é a categoria que ele disputará o mundial”, relata o pai, também chamado Flávio Logam.

O interesse do estudante pelo esporte foi despertado pelo pai. “O Flávio começou a se interessar pela canoagem por mim, que fazia parte de um projeto social. Fui para alguns clubes, como o Base Alfa, e meu filho foi acompanhando”, relata o pai. A vontade de usar o esporte como motor de inclusão social foi preponderante para o pai passar a incentivar a canoagem como profissão. “Onde moro há alguns problemas de drogas. Pensei que ter ele ao meu lado nos treinos seria uma forma de afastá-lo disso e também dar um instrumento de inclusão para ele”, finaliza.

O primeiro prêmio veio aos 12 anos, num torneio de Open Surfe na Comunidade do Bonete, ilha isolada em Ilhabela, no litoral paulista, que só pode ser acessada pelo mar ou por extensa trilha na mata. A proximidade com o mar faz o surfe ser o esporte favorito de todos os meninos que nascem na comunidade, que tem a pesca como principal força econômica.

Líder na escola e exemplo para a comunidade

A trajetória de Logam inspirou outros estudantes da comunidade a buscar o esporte como estilo de vida. Para muitos jovens do Ensino Fundamental, ele é um verdadeiro exemplo. “O Logam é o líder da classe. Ele é o líder de todos, na escola e na sala. Se alguém briga ou sai atrasado, ele dá bronca e cuida da sala, ajudando os professores”, relata o professor Eduardo.

Além do esporte, o exemplo do estudante dá o tom do trabalho desenvolvido pela dirigente regional Gisele Kampi. “O esporte é muito vivo nas comunidades tradicionais. Temos a canoagem, a corrida, o surfe. Os estudantes são competitivos e gostam de praticar”, explica. Dos estudantes da Escola Estadual Gabriel Ribeiro dos Santos, cerca de 400 jovens são surfistas.

Além de apoiar Logam no campeonato que será disputado em novembro, o desafio é fomentar boas práticas nas comunidades tradicionais caiçaras, nome dado às populações isoladas dos centros urbanos, normalmente acessíveis apenas por mal ou trilhas. “Temos muitas coisas boas acontecendo. Recentemente tivemos um projeto de moda numa escola chamada Colônia dos Pescadores. Queremos levar isso para todas as escolas”, explica a dirigente regional Gisele Kampi.

O secretário executivo da Educação, Haroldo Rocha, pontua que as comunidades tradicionais de Ilhabela são um tesouro para São Paulo. “Temos um trabalho específico naquelas escolas, que são grandes exemplos de como a educação funciona em prol da comunidade”, pontua.

O amor pelo esporte, no entanto, continua. “Recentemente fui de barco até a escola do Logam, e numa roda de conversa, os estudantes manifestaram o desejo de terem eletivas e materiais sobre educação física. O esporte é muito importante para eles e muda vidas”, finaliza.