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terça-feira, 23/09/2003
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Imprensa: Por que a TV não mostra o lado bom da Febem?

(Coluna publicada no Jornal da Tarde, edição de 21 de setembro de 2003) A Febem tem um lado bom? A disputa de poder entre líderes de facções inimigas na unidade […]

(Coluna publicada no Jornal da Tarde, edição de 21 de setembro de 2003)

A Febem tem um lado bom? A disputa de poder entre líderes de facções inimigas na unidade de Franco da Rocha prenuncia novas “rebeliões”, que são na verdade zoeira, tumulto. Há pouco mais de um mês um monitor foi morto. Novas mortes podem ocorrer, porque a mecânica é essa: se uma facção não ousa matar alguém, dá mostras de fragilidade. Uma reportagem dramática publicada pelo Jornal da Tarde mostrou a repressão, a violação de correspondência e a quebra de direitos humanos praticadas pelas autoridades da instituição. Só coisa ruim. E existe um lado bom?

Se existe, a televisão não mostra. Se existe, está ocorrendo uma deformação jornalística nas emissoras, que é a opção pelo sensacionalismo. O que vemos sempre nas imagens é quebra-quebra, tomada de reféns, incêndios provocados, arruaças, sevícias, fugas. Em um artigo publicado neste jornal a 9 de agosto, o presidente da Febem, promotor Paulo Sérgio de Oliveira Costa, afirma que os arruaceiros incorrigíveis são menos de 2% dos 6 mil mantidos em regime de internação. Menos de 120, portanto. Será que bastaria controlar, dominar e isolar esses 120 para as coisas andarem melhor?

Deixei passar esse tempo para ver se os jornalistas das emissoras teriam a curiosidade de checar os dados em uma reportagem ampla. Eu achava que mesmo tendo ele de contornar a dificuldade de mostrar imagens dos menores, o assunto valeria, eles se interessariam. Não se interessaram, que eu saiba.

Vou citar um trecho do artigo porque os dados surpreendem, e a citação é longa: “A Febem atende perto de 19 mil jovens em regimes de internação, liberdade assistida, semiliberdade e prestação de serviços à comunidade. Todos estudam, porque é pressuposto da ressocialização, e todos participam de projetos artísticos e culturais. Muitos trabalham – por exemplo, na Gráfica Escola, parceria com a Imprensa Oficial do Estado, que já formou 95 auxiliares gráficos, ou como aprendizes de cozinheiros em uma rede de restaurantes, projeto cujo mentor é o empresário Roberto Raviolli, ou ainda como os 18 jovens egressos da Febem que a rede McDonald’s já emprega – e treinará outros 900. E muitos estão se preparando para trabalhar – por exemplo, os 264 que a Fundação Bradesco treina como monitores de informática; ou 100 que o Centro Paula Souza treina como atendentes de biblioteca (no total serão 2 mil contratados pela rede estadual de ensino).

Muitos jovens têm sido revelados como expoentes do esporte, como comprovou a olimpíada Jogos Abertos da Febem, que acaba de ser completada e envolveu mais de 1.600 moços e moças de 57 unidades da Febem em todo o Estado. Muitos outros refinam o espírito desempenhando atividades artísticas, como os grupos de teatro mantidos em pelo menos oito das unidades da Febem. Há meninos que fazem pães e confeitos, há os que pintam, os que cantam, os que escrevem, os que esculpem, os que consertam”. É uma boa pauta. Por que a televisão não mostra tudo isso? Se ela gosta do incrível, é o que parecem esses dados diante da fama da Febem.

IVAN ANGELO