O primeiro grupo formado de 19 índios das etnias Guarani, Kaiagang, Krenac e Terena deve se inscrever para a escolha de classes, ainda este mês, numa das dez Diretorias de Ensino que possuem aldeias indígenas. Os novos professores que fizeram o curso nas cidades do Guarujá, Bauru e capital deverão iniciar as aulas no próximo dia 10 de fevereiro com uma carga horária de 24 horas semanais. Eles fazem parte da primeira turma do Curso de Formação de Professores Indígenas para Educação Infantil e Ciclo I (1ª a 4ª série do Ensino Fundamental) que teve sua primeira etapa concluída em dezembro do ano passado.
As aulas foram promovidas pela Fundação da Faculdade de Educação da USP em parceria com a Secretaria Estadual da Educação e vai formar até o final de setembro deste ano, mais 49 professores índios.
Para a Coordenadora do Núcleo de Educação Indígena da Secretaria, profª Deusdith Bueno Velloso, a iniciativa deve melhorar a qualidade de atendimento aos alunos indígenas nas escolas criadas em reservas do Estado e possibilitar a preservação da cultura desses povos. ” É um projeto pioneiro e representa um avanço para o alcance da cidadania dessas crianças. Antes, o direito à escola estava apenas no papel “, conclui Deusdith. Além disso, o projeto assegura aos professores indígenas a formação mínima exigida por lei e se incluem no quadro do magistério estadual como Professor de Educação Indígena.
A preparação para esse estágio não foi fácil para os índios da primeira turma. Eles passaram por 3.040 horas de estudo nas áreas de Linguagem, Código, Ciências da Natureza, Ciências Humanas, Fundamentos, Didática e estágio supervisionado. Em fevereiro, eles participarão das capacitações de planejamento para definir a forma como será aplicado o novo conhecimento. Os professores habilitados para as aulas de 1ª a 4ª , também poderão transmitir os conhecimentos da língua e da cultura étnica para os alunos de 5ª a 8ª série.
A visão do professor índio que passou por uma alfabetização no passado agora mudou. Os índios viraram agentes desse processo. A metodologia linguística possibilita a criação de um material pedagógico diferenciado, feito especificamente para a aldeia indígena. Hoje, eles reconhecem que a escola é feita para todos. ” Com a escola indígena, a cultura fica assegurada, protegida. Todo o conhecimento que recebi eu pretendo retornar para a comunidade. Eu quero que as crianças possam transmitir a nossa cultura para as outras que virão. Eu me sinto feliz fazendo esse trabalho”, conclui Poty Porã, professora formada, da aldeia Guarani, do Jaraguá.
Escolas Indígenas: Cerca de 700 crianças e adolescentes indígenas do estado de São Paulo estudam atualmente em escolas da rede oficial de ensino. A maioria (487) é formada por alunos de 1a a 4a séries do Ensino Fundamental, que freqüentam aulas na própria aldeia de origem. São ao todo sete escolas criadas pelo Governo do Estado, através do Programa de Apoio à Educação Indígena, em parceria com as prefeituras. Outras 13 estão em fase de construção em 13 aldeias do Estado. Além do local apropriado, as aulas são bilíngües (em português e na língua materna).