Na última segunda-feira (26), o mundo perdeu um de seus maiores ícones da luta contra o preconceito racial e pelos direitos civis. A norte-americana Linda Brown ficou internacionalmente conhecida ainda na década de 1950, quando figurou um dos mais ferrenhos embates travados dentro da esfera do preconceito racial: a segregação. Linda tinha somente nove anos de idade quando seu pai, um pastor, foi impedido de inscrever a criança numa escola pública primária próxima da casa em que viviam. Até então, a estudante era obrigada a percorrer uma longa distância todos os dias para que conseguisse estudar. Naquele período, nos EUA, existiam dois tipos de escolas: as dos brancos e a dos negros.
A nação seguia a linha de “segregada, mas igual”. Ou seja, as escolas podiam restringir o acesso de alunos, ficando os brancos e os negros distantes, mas eram obrigadas a manter o mesmo nível de aprendizagem. Quatro anos após a Summer School recusar a garota, por ser negra, o Tribunal Supremo pôs fim à segregação nas escolas. Estes quatro anos representam um grande período de debate sobre o tema.
Segundo o Supremo dos EUA, para dar base à sentença, a segregação era uma prática que violava a cláusula de “proteção igualitária” prevista na Constituição. O Supremo determinou que “separar (as crianças negras) de outras de idade e qualificações similares unicamente pela sua raça gera um sentimento de inferioridade quanto à sua posição na comunidade que pode afetar seus corações e mentes de um modo improvável de reverter”.
Linda Brown morreu aos 76 anos de idade, por causas ainda não divulgadas.
Educação não combina com preconceito
Herança de tempos sombrios, o preconceito insiste em fazer parte da sociedade. O preconceito, qualquer um deles, é algo que não leva o ser humano à um estágio maior. Pelo contrário, ele acorrenta a sociedade no passado.
Na rede estadual paulista o preconceito tem sido combatido. Na E.E. Pedro de Moraes Victor os profissionais acreditam que a escola é um local de aprendizagem e valorização das diferenças. Em relação ao preconceito racial, ensinar as culturas africanas também é primordial, pois quem conhece a história começa a se importar com o futuro.
“Trabalhar as culturas africanas e as culturas afro-brasileiras, além de trabalhar a questão da desconstrução do racismo, eu acho que é importante em si mesmo porque o Brasil é formado por pessoas negras, por pessoas descendentes de africanos e, muitas vezes, essas culturas elas são esquecidas intencionalmente inclusive”, acredita a professora de Artes Bruna Pucci.
Na Semana Afro 2017, os alunos puderam pintar o rosto de acordo com a cultura dos povos Omo, entenderam o que significa a Boneca Abayomi e ainda tiveram uma aula para que pudessem produzir um desses brinquedos. Além disso, teve roda de capoeira e workshop de turbantes, entre outras atividades.
Durante o ano letivo, os trabalhos são realizados no intuito de sensibilizar os alunos para que a Semana Afro chegue com força e mantenha sua importância, que já é tradicional na unidade. Cada professor, dentro da sua área, ou no projeto interdisciplinar, têm um planejamento ligado a Semana da Consciência Negra, e esse projeto se concretiza em novembro.
Para Ivani Maia, professora de História da E.E. Pedro de Moraes Victor, “todos dentro da Educação têm a sua obrigação de desenvolver esse tipo de trabalho com os alunos. Pois, dentro disso, a gente tem que quebrar barreiras”, enfatiza.
Pamela Lopes de Oliveira, aluna da Pedro de Moraes Victor, explica que “mesmo no século 21 ainda muitos casos de adolescentes e crianças que têm muito preconceito com ‘amigos’. Então, quando chega na escola e tem contato com uma ação dessas, de conscientização, ela acaba revendo seus conceitos”.
A professora Ivani Maia explica que a conscientização é um trabalho de conscientização. “Então a gente, como sociedade, tem que fazer isso o tempo todo para que esse aluno, essa pessoa, veja que não é só aqui dentro da escola esse discurso. Ele tem que levar essa ideia para fora dos muros da escola. Então, a partir disso, a gente vai ver que está dando resultado”, esclarece.
A E.E. Francisco Milton de Andrade também trabalha o tema com seus estudantes. O Campeonato do Saber, projeto interdisciplinar que faz cada classe disputar pela primeira colocação no pódio, teve como tema de sua 4ª edição o título “África, berço da humanidade, território de múltiplas culturas e contrastes sociais”.
O projeto faz parte do PPP (Plano Político Pedagógico) da E.E. Francisco Milton de Andrade, e se tornou a principal tarefa multidisciplinar da escola guarulhense. Em poucas palavras, o Campeonato do Saber é uma grande gincana cultural, onde os vencedores são as turmas que somam a maior pontuação.
Todos os alunos puderam apresentar seus trabalhos com foco na cultura africana, o que reforça o combate ao preconceito racial. O aluno Rafael Braz Correa fez uma apresentação de balé contemporâneo solo. “Eu quis expressar a cultura afro, a cultura deles, por meio de desenhos no corpo humano”, diz o estudante.