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quinta-feira, 14/10/2004
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No Dia do Professor, Governo do Estado lança Prêmio Paulo Bomfim – Concurso Jovem Poeta

Com as presenças do governador Geraldo Alckmin, da primeira-dama Lu Alckmin e do Secretário de Estado da Educação, Gabriel Chalita, será lançado nesta sexta-feira, Dia dos Professores, o “Prêmio Paulo […]

Com as presenças do governador Geraldo Alckmin, da primeira-dama Lu Alckmin e do Secretário de Estado da Educação, Gabriel Chalita, será lançado nesta sexta-feira, Dia dos Professores, o “Prêmio Paulo Bomfim – Concurso Jovem Poeta”.

Na solenidade, que acontece às 11h no Palácio dos Bandeirantes com apresentação de Cunha Junior, o poeta Paulo Bomfim receberá das mãos do secretário uma placa em reconhecimento ao seu trabalho.

Cerca de 1.200 pessoas participarão da cerimônia, entre autoridades, poetas, escritores, professores e alunos. Destaques para a atriz Esther Góes, que declamará poemas de Paulo Bomfim, e o empresário e amigo do poeta Antonio Ermírio de Moraes, que fará um discurso em homenagem a Bomfim.

O concurso presta homenagem ao poeta e celebra os 450 anos da cidade de São Paulo. Podem participar alunos de 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental e alunos do Ensino Médio das escolas públicas do Estado de São Paulo. Serão premiados os autores das 10 poesias classificadas na etapa final, sendo cinco poesias de 5ª a 8ª séries e cinco de Ensino Médio. Cada autor selecionado receberá um acervo de livros, no valor de R$ 2.500,00, e um diploma honorífico.

As 10 poesias vencedoras do Concurso serão publicadas em página especial do site do Centro de Referência em Educação Mário Covas. A produção e seleção na escola acontece de 16 de outubro a 10 de dezembro deste ano e o resultado será publicado no Diário Oficial do Estado e no site da Secretaria da Educação e do CRE Mário Covas, no dia 26 de abril de 2005.

 

HOMENAGEM A PAULO BONFIM, O SIMPLES

Gabriel Chalita

A poesia é a celebração do amor em palavras. E o poeta é o sacerdote da linguagem. Luta mais vã, no dizer de Drummond, e no entanto cotidianamente repetida, porque o poeta passa os dias a recolher e a resgatar e a redistribuir o amor, como um professor magistral. O poeta é, assim, um educador, e ao educador podemos chamar o poeta da aprendizagem. Eis aqui a tangência entre a poesia e a pedagogia, e não é demais dizer que essas duas liturgias educacionais encontram na obra de Paulo Bonfim convergência e síntese. Paulo Bonfim é o grande poeta da pátria paulista. E foi com o sentido da mais justa homenagem que a Secretaria de Estado da Educação conferiu o seu nome ao Prêmio Jovem Poeta, idealizado para estimular a leitura e análise da moderna poesia paulista. A iniciativa do concurso já está cumprindo o papel de despertar nos estudantes da rede pública de ensino de São Paulo o interesse pela obra de muitos poetas, entre eles a do próprio Paulo Bonfim, que “pastor já foi desse rebanho alado”.

Paulo Bonfim é um homem simples. Nomeado Príncipe dos Poetas Brasileiros, como sucessor de Guilherme de Almeida, pela Revista de Brasília, altíssimo comissário da intelectualidade paulista, desmente, no dia-a-dia, essa suposta hierarquia nobiliárquica. E desmente por escrito: “No fundo, somos doentes de simplicidade.” Antonio Triste, personagem de seu livro homônimo de estréia, em 1947 (premiado em 1948 pela Academia Brasileira de Letras com o Prêmio Olavo Bilac) é um mendigo, e sua história é um hino ao excluído e contra a exclusão. Leiam um pequeno trecho:

Esguio como um poste de Avenida

Cheio de fios de pensamentos,

Antonio era triste com as árvores

Despidas pelo vento,

Alegre às vezes como a passarada

Nos fins da Madrugada.

Decano da Academia Paulista de Letras, Paulo Bonfim sintetiza em seus poemas, há 55 anos, o conceito da educação para todos, que a Secretaria de Estado da Educação pratica, num exercício que nasce da simplicidade. Porque são as ações simples que se transformam em alavancas para os aprendizados. Quando um diretor diz bom dia aos alunos que entram na escola, está educando; quando o servente olha para esse diretor e gosta dele, está revelando motivação e orgulho, e portanto está educando os alunos que lhe acompanham o olhar de afeto em direção ao líder; quando os alunos chegam e encontram a escola limpa e bonita, sentem-se bem e portanto totalmente integrados ao complexo educacional; quando os pais visitam as escolas, e se sentem valorizados e respeitados, com suas idéias ouvidas e atendidas, estão participando do processo educacional, educando e educando-se.

Mas a simplicidade preconizada por Paulo Bonfim não quer dizer de modo algum impassividade. Ele mostrou isso no poema publicado em 23 de maio de 2002, quando se comemoravam os setenta anos da revolução Constitucionalista:

Este é o chão de nossa aurora

Aqui tombaram os sóis

Da juventude de heróis!

Aqui ficou a semente

Daqueles que bravamente

Rimaram a mocidade

Com rima de liberdade!

É Miragaia voltando

É Martins que vem lutando

É Dráusio jogando a sorte

Camargo vencendo a morte

– Heróis que a saudade encerra

– Bandeira da nossa terra.

Ele próprio um descendente de bandeirantes, foi o responsável direto pela criação do Dia do Bandeirante (30 de maio). Seu livro Armorial é uma obra dedicada aos “antepassados que ainda não regressaram do sertão, estes três séculos de espera”, e é neste trabalho que pode ser destacada mais evidentemente a sua alma de poeta e de historiador. Além desses, dedicou-se a variados afazeres na lida cultural. Atuou em jornalismo, foi animador cultural, professor, apresentou programa de televisão, e, ainda hoje, beirando os oitenta, cumpre religiosamente o trabalho como orientador do cerimonial do Tribunal de Justiça.

O trecho a seguir exibe a filosofia da poética e da vida desse mestre da poesia:

“Em certos momentos, partir e chegar significam a mesma coisa. Somos o porto e a nau, o tripulante e o naufrágio. Olhar a vida de frente, mesmo que a verdade fira os nossos olhos e a mão dos deuses desmanche aquilo que pensamos. Devemos escrever o que somos, de tal maneira, com tamanha autenticidade, que, se alguém cravar um punhal em uma frase por nós sonhada, sinta nos dedos a cor do nosso sangue”

Paulo Bonfim é um homem cheio de vida, de uma vida plena de poesia. Um homem que a seu modo, com a pureza das palavras, seus instrumentos de luta, como eram de Drummond, vem praticando a educação e exercendo o civismo. A homenagem que lhe é prestada neste momento não é nada senão justa, e talvez seja insuficiente, mas é algo que a rede pública de ensino realiza para que a nossa própria identidade seja um pouco mais edificada e edificante.

Gabriel Chalita é secretário estadual da Educação