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quinta-feira, 21/06/2018
Foto divulgação
Ensino Fundamental

Professor aposta no completo protagonismo de gremistas

Na unidade, que fica na Casa Verde, em São Paulo, existe uma relação de confiança muito forte

A autoestima e a autoconfiança das pessoas são fortes aliadas para se obter uma vida saudável. Se na infância e adolescência esses quesitos não forem trabalhados, a chance do indivíduo se tornar um adulto inseguro, cheio de dúvidas e com medos é bem grande, o que dificulta a conquista dos objetivos. Na escola Professora Dulce Ferreira Boarin, o Grêmio tem a ajuda de um professor orientador, mas que só dá pitacos nas atividades quando sente que é necessário. Do contrário, os alunos se viram e conseguem atingir bons resultados nas tarefas que se propõem a realizar.

“E eu fico muito contente com a apropriação deles, com o papel de protagonistas que eles desempenham. Além de colaborar com a organização, com a gestão, eles mesmos organizam várias ações para melhorar o espaço para os alunos e para a comunidade”, afirma Rauni Taborda de Faria, professor orientador do Grêmio Estudantil.

Na unidade, localizada na Casa Verde, bairro da capital paulista, existe uma relação de confiança muito forte. O professor, simplesmente, confia que os alunos conseguirão encontrar boas soluções para os projetos. “O grêmio tem que ter autonomia, o professor orientador tem que estar ali para dar apoio. As vezes, eles só me comunicam ‘olha professor, a gente vai fazer tal coisa’. Eu respondo um ‘é isso aí, continua’. Se é para o bem da escola tem que ir tocando”, acrescenta Rauni.

Em 2018, todo o processo de escolha das chapas foi realizado desde o começo, com o processo de formação, comissão do grêmio e criação de estatuto. A importância de fazer tudo desde a base se dá por ser “interessante que os jovens entendam o que é o Grêmio”, enfatiza o professor orientador. Segundo o docente, “o processo eleitoral foi muito bom, muito gratificante. Achei que foram comprometidos, movimentaram a escola durante o período. E os alunos escolhidos para representarem a escola têm uma visão bastante progressista, eles trabalham muito bem, são engajados”, observa Rauni Taborda.

Brenda Vieira dos Santos tem 16 anos, cursa a 3ª série do Ensino Médio e já teve uma experiência como gremista em outra unidade, mas que não foi muito agradável. Mesmo assim, não desistiu da vida pública na escola e agora ocupa a vice-presidência do Grêmio Força Jovem Boarin. Segundo a estudante, uma estratégia de campanha foi fazer promessas que fossem mais fáceis de serem efetuadas, sem perder o comprometimento com o lado social e garantindo a diversão da garotada.

Com isso, estão previstos campeonatos esportivos, saraus, show de talentos e outras coisas mais. “São poucas coisas, mas o pessoal gostou e votou na gente. A gente está, nesse momento, fazendo a campanha do agasalho. E tem a campanha Meias do Bem, onde a gente recebe doações de pares de meias e entrega para uma organização que produz cobertores com esse material”, diz a gremista. “E os alunos já doaram bastante coisas”, comemora Brenda.

Outro projeto que aguça a curiosidade dos participantes prevê o estreitamento das relações entre alunos e professores, uma queixa ouvida antes mesmo das eleições se concretizarem. “Alguns alunos relataram a dificuldade de se relacionarem com alguns professores. Aí o grêmio sugeriu o Dia do Troca, quando os estudantes dão a aula e os professores assistem. Além disso, a gente fez uma proposta onde acontece durante todo o semestre uma competição de conhecimento entre as salas. A vencedora ganhará um prêmio, que é surpresa”, sussurra a vice-presidente.

A pequena Kaori Adaniya, 14, é coordenadora financeira da agremiação. Foi escolhida para a chapa pela Brenda, quando desenvolvia na escola a função de aluna acolhedora. Um aluno acolhedor está ali para tornar a chegada de novos estudantes em uma experiência mais agradável.

A antiga função facilitou bastante a nova experiência da Kaori, que avalia tudo como algo bom em sua vida. “Eu mudei muito depois de entrar no grêmio. Ano passado eu ficava sem fazer nada no intervalo, por exemplo, e agora meu tempo livre está totalmente ocupado. Criei mais responsabilidades com as coisas da escola. E eu tenho levado essa experiência para a minha vida fora da escola”, esclarece.

Kaori alerta que realizar as ações do Grêmio é fortalecer o acolhimento. “Por exemplo, tem o Show de Talentos que a gente propôs para que as pessoas se soltassem mais, ficassem mais à vontade. Tem gente que é muito tímida e acaba não se relacionando muito bem, então essas atividades ajudam com isso. A campanha do agasalho é outro motivo de interação, mas a gente fez pensando em como ajudar o próximo”, assegura a gremista.

E o grêmio Força Jovem Boarin é tão articulado e seguro que encontrou até mesmo uma solução para a formatura dos estudantes, que acontecerá no fim do ano. Uma empresa ofereceu os serviços para a festividade, um momento especial para todos os alunos e alunas. Mas, por ser algo que pesa no orçamento familiar de muitos matriculados na unidade, os gremistas logo trataram de decretar, no bom sentido, que a cerimônia de formatura daquele corpo discente será lá mesmo, nas dependências da Boarin. Com uma campanha de arrecadação de verba pretendem custear os gastos para que todos possam ter a oportunidade de participar.

Processo eleitoral

As unidades da rede estadual paulista passaram recentemente pelo democrático processo de eleições dos grêmios estudantis. O prazo sugerido pela Secretaria da Educação se encerrou em abril de 2018, mas algumas escolas preferiram trabalhar com um tempo maior, mas todas já finalizaram suas etapas locais.

A ação faz parte do projeto Gestão Democrática que visa expandir a participação dos estudantes dos ensinos Fundamental e Médio nas tomadas de decisões na escola. Atualmente, 92% das unidades de ensino mantém Grêmios Estudantis. Esse número representa mais de 4,7 mil escolas da rede. Assim, os jovens têm a oportunidade de adquirir responsabilidade, autonomia e liderança.

“Precisamos garantir que os estudantes tenham interesse e sejam informados sobre o processo. O aluno deve parar de olhar para a questão individual e contribuir com o espaço educativo”, destaca Sonia Maria Brancaglion, técnica do gabinete da Secretaria da Educação.

Vale ressaltar, que as escolas que tem grêmio estudantil em atividade precisam realizar anualmente o pleito para garantir que novos alunos participem da composição das chapas e da escolha.