Escolas estaduais desenvolvem projetos que instigam e animam os alunos
A dança é uma das mais antigas formas de entretenimento e expressão da humanidade. Hoje, no Brasil, os ritmos mais tocados, e conseqüentemente mais aprendidos, são o axé, o forró e o pagode, tanto que aulas dessas modalidades são oferecidas em muitas escolas durante o Programa Escola da Família. Existem outras opções menos populares com as quais algumas escolas estaduais têm se destacado criando novas atividades, usando inspirações inusitadas como a música new age e dança folclórica.
Competições e festivais promovidos pela rede estadual incentivaram o aluno Fábio Paiva, do Ensino Médio da EE Dr. Joaquim Salvado e estudante de teatro, a formar junto com outros 18 colegas o grupo Phoenix de dança contemporânea. A professora de matemática Regina Stravini diz que “o grupo é fruto da filosofia da escola, segundo a qual os alunos são estimulados a usar a criatividade, desenvolver seus próprios talentos e a delegar atividades, interagindo em grupo”.
Fábio e os colegas estudam no período noturno porque trabalham em período integral, o que sensibilizou o corpo docente da escola a reorganizar-se de maneira que a cada dia fosse cedida uma aula de 40 minutos para que eles pudessem ensaiar. Os alunos do grupo de dança fazem os trabalhos escolares com colegas que não dançam no conjunto, para adquirir o conteúdo perdido. Essa foi a maneira encontrada pelos professores para incentivar a dança e promover uma integração maior entre os estudantes da escola.
A música Amendo, do grupo musical Era, foi o meio para transmitir uma história que os próprios alunos criaram a partir da mitologia greco-romana, na qual Hades, rei do Inferno, decide tramar contra a deusa Gaia, protetora da Terra. Hades é traído por seu exército, mas Gaia não resiste e morre. No inferno, como vingança, Gaia conquista o coração do terrível deus.
A força dessa história e a garra dos alunos garantiram o primeiro lugar na fase pólo do Festival de Dança e levou o grupo a se apresentar na Gincana da Solidariedade com grande sucesso.
Maculelê é resgatado pela EE Antônio Francisco Redondo
Da capoeira, do trabalho voluntário, da tradição afro-indígena e do interesse dos professores nasceu o projeto da EE Antônio Francisco Redondo: a dança do Maculelê. João Ricardo Patriota, ex-aluno da unidade, ministrava aulas de capoeira durante os fins de semana na escola, desde 2000, para os estudantes do Ensino Médio. A ele se somou o interesse da professora Angelina Leite de Azevedo e o conhecimento do professor João Gazeta: o trio resgatou uma dança originária do interior da Bahia, o Maculelê, comum em festas populares, apresentações de capoeira e na comemoração do dia de Nossa Senhora da Purificação (2 de fevereiro). Os alunos pintam-se como guerreiros, vestem saias de sisal, dançam em roda batendo grimas (bastões) ao som de atabaques.
A tradição popular conta que numa aldeia do reino de Iorubá certa vez saíram todos os guerreiros para caçar, ficando na aldeia apenas alguns homens, idosos, as mulheres e as crianças. Uma tribo inimiga aproveitou a ocasião para atacar a aldeia. Um índio chamado Maculelê liderou os poucos homens que haviam ficado. Armados de curtos bastões de madeira, eles enfrentaram e expulsaram a tribo invasora. Quando os guerreiros da tribo voltaram, promoveram uma festa para comemorar a avassaladora vitória. Maculelê e os outros dançaram mostrando como haviam vencido seus inimigos. Até hoje a dança é celebrada como uma homenagem à coragem daqueles índios.
Outra corrente diz que os negros escravos dançavam o Maculelê quando iam para as plantações e que, como a capoeira, essa era uma forma de treinarem suas lutas sem serem descobertos por seus capatazes. O certo é que o trabalho da equipe da EE Antônio Francisco Redondo possibilitou aos alunos conhecer um pouco mais de seu próprio país através da dança.
Aline Viana