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quinta-feira, 28/06/2018
Foto divulgação
Ensino Fundamental

Livro de experiências retrata a realidade de crianças e adolescentes imigrantes

Sensibilização e acolhimento é dos objetivos principais do projeto, que deve ter continuidade no segundo semestre do ano

Das atividades promovidas pelo projeto Tendas de Cidadania – voltado para crianças e adolescentes imigrantes – nasceu o Livro das Tendas, uma obra que reúne não somente números e estatísticas, mas também experiências e vivências que retratam parte da realidade destas populações.

O Livro das Tendas pode ser baixado por meio deste link.

Segundo Bruno Lopes, Coordenador de Projetos do Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante – CDHIC, é importante levar alunos, professores, famílias e sociedade como um todo a pensar, todos juntos. “O Livro das Tendas é um dos produtos deste projeto, e dos mais importantes. Pensamos, inicialmente, em fazer algo mais quadrado, mais técnico, mas percebemos uma sensibilização em torno do assunto, decidimos ampliar esse leque”.

De fato, o Tendas de Cidadania para Crianças e Adolescentes Imigrantes é uma iniciativa bem mais completa. “O projeto se propôs a valorizar as experiências de vida e colocá-las como uma contribuição importante na construção de relações sociais saudáveis e inclusivas. Experiências de vida atravessadas por elementos e práticas culturais que falam de lugares de origem e de visões de mundo diversas”, explica Elvira Riba Hernández, analista pedagógica e que também escreveu a introdução do Livro das Tendas.

A publicação, segundo seus organizadores, visa compartilhar a metodologia e as experiências vivenciadas no projeto, desenvolvido entre dezembro de 2016 e junho de 2018 pelo CDHIC.  O objetivo é que o livro funcione como ferramenta de sensibilização e de inspiração para futuras ações de combate à xenofobia e respeito à diversidade realizadas por educadores e outras organizações sociais em todo o Brasil. “Quisemos construir mais que um documento, mas um estímulo para ações multiplicadoras. Um manual mesmo, para replicar, se inspirar e construir propostas mais adequadas no acolhimento dessas populações”, conta Lopes.

As tendas tinham uma estratégia bem particular. “A ideia foi ocupar o espaço público e estabelecer um laboratório para o exercício da cidadania. Foram feitas parcerias com associações de imigrantes e com escolas públicas, mobilizando a todos para a construção coletiva. Ali se discutiu, se divergiu, se criou, se abraçou. Ali se fez uma escuta respeitosa das demandas e ideias das crianças participantes”, explica Elvira. E assim, nasceu a obra.

O CDHIC percebeu que havia uma demanda muito especial dentro desta comunidade específica. São Paulo é a cidade brasileira que mais acolhe imigrantes. Entre estes, um grande número de crianças e adolescentes que se encontram, em sua grande maioria, matriculados nos sistemas de ensino público estadual e municipal de São Paulo.

Nos ambientes escolares, ainda que haja um consenso por parte de gestores públicos, educadores, pais e familiares ainda sofrem com situações agressivas e queixas de discriminação em relação a seus filhos, que são vítimas de diferentes formas de intimidação, assédio e violência de maneira intencional. E nestes espaços, elas poderiam manifestar estas frustrações, tristezas e também os seus desejos de uma vida melhor e mais digna, ao participarem das atividades propostas.

Na Feira Boliviana da Kantuta, na região do Canindé, A., de apenas 11 anos, contou o quanto participar das Tendas foi importante para ela. “Era muito legal e todos eram legais com todos. Adorava as atividades, pois todos participavam e eu fiz muitos amigos. A gente fazia coisa que a gente gostava e era bem variado. Os origamis e a faixa de fitas adesivas foram minhas tendas prediletas. Agora eu quero mais atividades, quero muito! Origamis, pintura, tudo que a gente fez”. Sua mãe, K., que é feirante no local, também fez sua consideração. “Juntar as crianças para fazer atividades era muito bom. Gostei muito deles estarem ali. A única coisa ruim é que era pouco. Podiam estar ali sempre com mais brincadeiras e jogos de antigamente”.

Bruno conta, orgulhoso, que as Tendas mobilizaram também família, educadores e que o projeto superou a meta de atendimentos – cerca de 348 crianças e adolescentes participaram, bem mais do que imaginaram inicialmente. “Nestas instalações, somos capazes de identificar quais as necessidades culturais dessas pessoas, por que elas apresentam determinados comportamentos. É uma forma democrática de não silenciar essas pessoas, pelo contrário, é conhecer mais da cultura do outro e oferecer mais acolhimento a todos eles”.