Olhos puxados, fala contida, gestos delicados. Para muitos, a visão sobre o povo oriental não vai muito além dos estereótipos citados no início do texto. A prova de que eles têm muito mais a nos ensinar e mostrar foi a festa organizada pela escola Major Telmo Coelho Filho , em Osasco, na Grande São Paulo, para revelar as primeiras ações desenvolvidas pela equipe escolar dentro do Viva Japão, programa da Secretaria da Educação que integra as comemorações dos 100 anos de imigração japonesa no Brasil em 2008.
Empenhados desde o início de março na preparação dos mais diferentes trabalhos ligados ao povo japonês, alunos e professores da unidade escolar dirigida por Patricia Ribeiro Tavares Bellato promoveram um verdadeiro desfile de cores, ritmos, costumes e hábitos alimentares nesta sexta-feira, dia 15. O primeiro grupo a se exibir diante dos 700 alunos que lotaram a quadra mostrou uma coreografia inspirada na dança de agradecimento pela boa colheita de arroz, e também pelo sucesso na pesca.
Japão com tempero brasileiro
Em seguida, a emoção tomou conta do público com uma interpretação tocante da canção Rosa de Hiroshima, de Vinícius de Moraes. A música foi o jeito que os alunos encontraram de lembrar os efeitos físicos e morais causados pela bomba. Mas a trilha musical animou mesmo o público quando outro grupo de alunos apostou na inusitada mistura de violino, violão, berimbau, agogô, atabaque, pandeiro e triângulo para cantar e tocar – acreditem – uma canção japonesa. Mais miscigenação de raças… impossível !
Tradições e arte marcial
Os donos do ritmo continuaram em cena para a entrada de outro personagem marcante do cenário oriental: o dragão. Na China, o dragão (lung) representava o princípio yang da atividade e da masculinidade e desde tempos muito remotos constituía o símbolo da família imperial, reproduzido em edifícios e flâmulas. O dragão japonês, um dos elementos herdados da cultura chinesa, tinha o poder de mudar de forma e tamanho e ainda a faculdade de fazer-se invisível. Em seguida, foi a vez de demonstrar a prática de uma arte marcial bastante difundida no ocidente: o Aikido, misto de defesa pessoal e seqüência de exercícios para manter os sentimentos corretos mesmo em meio a situações extremas como num combate.
Todas as apresentações foram acompanhadas de perto pelo diretor técnico da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (Cenp), Hiroyuki Hino, personagem vivo da imigração japonesa no Brasil. Orgulhoso, fez questão de contar aos alunos que saiu do Japão aos 10 anos, em 1956, em pleno frio, para chegar aqui no ano seguinte, janeiro de 1957, após cinqüenta dias navegando. Apesar do dia chuvoso, estranhou o calor. Por pouco tempo. “Hoje sou mais brasileiro do que japonês, mas a maneira de pensar e me comportar ainda lembram muito do meu povo”, contou.
Além dele, dois outros visitantes se mostravam encantados com o que viam. Atentos a tudo, os jornalistas japoneses Yoshifumi Horie, do Jornal Nikkei , que circula aqui e no Japão; e Ryota Ichikawa, correspondente da Agência de Notícias Jiji Press. Profissionais que se admiraram com a desenvoltura e o interesse com que a aluna Aline Bandeira Souza, 18 anos, aluna do último ano do ensino médio.
Esbanjando segurança, a estudante revelou que a culinária japonesa foi o ponto estudado que mais a impressionou. “É algo extremamente difícil. Você tem que cortar tudo bonitinho. Tem toda uma técnica, e a apresentação dos pratos parece uma obra de arte. Aliás, a impressão que fica é a de que a vida japonesa é uma arte”, revelou. E concluiu. “Quero levar para a minha vida a vontade que eles têm de acertar.” Para quem quiser, como Aline, viajar pela magia da cultura oriental, preste atenção. A escola Major Telmo Coelho Filho , em Osasco, na Grande São Paulo, abre as portas para mostrar o trabalho do Viva Japão neste sábado, dia 16, das 9 ao meio dia. O endereço é Avenida Comandante Sampaio nº 285. A entrada é franca.
Celso Bandarra