Diretor bom, escola boa. Pesquisas têm mostrado que quanto mais bem formado o diretor, mais eficaz é a aprendizagem das crianças, principalmente na rede pública. E se tornam mais comuns as capacitações organizadas pelos governos para moldar o gestor moderno. Não é mais suficiente dominar as tarefas administrativas, é preciso interferir no processo pedagógico e promover a abertura das escolas para a comunidade.
Números do projeto Gestão para o Sucesso Escolar, da Fundação Lemann, mostram um acréscimo de 18% nas médias de português dos alunos da 4.ª série depois que seus diretores receberam aulas específicas para melhorar o desempenho no cargo. Os Novos conceitos valorizam a figura do gestor escolar e programas investem na capacitação profissional resultados são de escolas públicas de São Paulo e Santa Catarina, as primeiras a participar do projeto em 2003 e em 2004. Este ano, serão formados diretores no Ceará e Tocantins.
Outro projeto semelhante, a Escola de Gestores, terá seu piloto lançado no mês que vem pelo Ministério da Educação (MEC). A primeira turma do curso será de 400 diretores de escolas da educação básica de dez Estados. A capacitação será feita por meio de educação a distância e presencial, essa última em parceria com instituições de ensino superior locais.
O currículo do curso inclui legislação, conhecimento de políticas públicas de transporte, merenda, livros didáticos, gestão democrática, relações humanas, entre outros. Segundo a coordenadora do projeto no ministério, Lia Scholze, a Escola de Gestores nasceu principalmente da preocupação com o baixo desempenho dos alunos no Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb), feito pelo MEC. “Não adianta só capacitar professor, o diretor tem de entender de educação também”,diz.
INDICADORES
No programa da Fundação Lemann, antes de começar o curso para gestores, são os estudantes os avaliados. A segunda rodada de provas acontece no fim da capacitação e serve para medir a eficácia do trabalho do diretor. “Mobilizamos a equipe escolar para trabalhar com os indica-dores dessa avaliação”, diz a diretora-executiva da Fundação Lemann, Ilona Becskeházy.
A diretora Dircilene Segura Santos, que trabalha em uma escola municipal de São Roque, interior do Estado, identificou em seus alunos problemas em leitura. “Aprendi que o professor não sabe tudo e que ele não tem coragem de dizer isso”, conta. Ela então passou a ler com os professores e mobilizou alunos e funcionários para organizar espaços de leitura. Além disso, ela chamou a comunidade para participar de atividades e pediu a alunos da 8.ª série que fizessem um vídeo do bairro. Dircilene foi uma das 19 diretoras premiadas pelo projeto da fundação – entre as 200 que participaram por causa da significativa melhora de seus alunos na avaliação.
ESCOLHA
A maneira como o diretor é escolhido para o cargo é diferente em cada Estado. Em São Paulo, há concurso público e um sistema de pontuações que permite ao melhor classificado optar pela escola de sua preferência. Segundo o secretário da educação, Gabriel Chalita, desde o ano passado os diretores são obrigados a permanecer pelo menos dois anos na escola escolhida para que os projetos não sejam interrompidos. “A cara da escola é a cara do diretor. Às vezes você encontra duas escolas numa mesma rua, que receberam o mesmo dinheiro, e são completamente diferentes”, diz.
Estados como o Ceará fazem eleições na comunidade para escolha do diretor, como ocorre também em alguns países da Europa. No Tocantins há análise de currículo, entrevistas, provas e, no fim, uma lista tríplice para cada escola, e secretária de educação indica o novo diretor.
“O que ainda é lamentável é ver cidades e Estados escolhendo diretores apenas por indicação política, sem qualquer critério de competência”, afirma Ilona. O Brasil tem 74.896 gestores de escolas do País – em cargos de diretores ou não. A maioria é mulher.
Renata Cafardo