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sexta-feira, 09/03/2018
Foto Divulgação
A Escola Que Queremos

Um projeto simples de mediação que levou muitos benefícios à escola de Araçatuba

Os “Mediadores Mirins” ensinaram o respeito ao próximo, diminuíram a evasão e combateram o bullying

Sabe aquela história de que ‘santo de casa não faz milagre’? Então, pode começar a rever esse ditado. Pelo menos, se depender de uma turminha, mais do que especial, de alunos mediadores, na cidade de Araçatuba, as coisas impossíveis estão sendo, a cada ano, combatidas dentro da escola. Com o projeto “Mediadores Mirins”, a E.E. Professora Altina Moraes Sampaio passou a ter menos evasão escolar e casos de bullying quase que totalmente controlados.

Em 2015, ao ser transferida para a unidade do Programa de Ensino Integral, a fim de cumprir as tarefas de vice-diretora, Glaucia Graneli percebeu que os alunos, não todos, possuíam posturas que desgastavam o ambiente e todos que ali frequentavam. Com isso, adotar práticas de mediação e conflitos no ambiente escolar e apoiar o desenvolvimento de ações e programas de justiça restaurativa era algo urgente. De imediato, tratou de colocar em prática suas habilidades como mediadora, e o mesmo aconteceu com os professores. Mas, não estava surtindo o efeito esperado.

“Quando comecei não fui bem aceita. Eu já cheguei determinando pelas normas de convivência, como uso de uniforme, horário regrado, essas coisas. Aí eles estranharam. Os alunos da época não tinham respeito, tudo era no grito, na agressão física ou verbal. Sinceramente era um caos”, explica Glaucia.

Foi então que a vice-diretora teve a ideia de fazer com que os próprios alunos mediassem os conflitos. Passou a treinar uma turminha de interessados, que foram selecionados previamente. “Nessa formação eu explico tudo sobre mediação. Como eu já fui mediadora em outra escola, fica mais fácil repassar a experiência”, conta.

O projeto “Mediadores Mirins” consiste num processo sistemático e multidimensional que envolve valores, atitudes, comportamentos e práticas. Trata-se de um processo que articula sensibilização e leitura crítica da realidade. Além disso, busca desenvolver nos alunos relacionamentos positivos e atuar de forma corresponsável, tendo em vista o desenvolvimento da aprendizagem e do projeto de vida dos mesmos, com foco na solução e não no problema.

Todos que apresentaram interesse compareceram na reunião para obter mais informações e efetivar sua participação ao projeto. Foi então que criaram um cronograma de formação para o grupo. No intervalo do almoço, na sala de informática, a vice-diretora desenvolveu as capacitações de todos os alunos mediadores mirins, através de vídeos, palestras e exemplos práticos de técnicas de mediação.

Os assuntos abordados incluíram a Prática do Diálogo, a Prática Restaurativa, Aconselhamento Individual e Coletivo, Círculo Restaurativo e Centramento. Com tudo isso, aqueles alunos, e todos que se prontificam a ser mediadores, desde então, ocuparam posição de protagonista na comunidade escolar.

“Nos encontros, a dona Glaucia sempre possibilitou reflexões e rodas de conversas para que tivéssemos orientações sobre a prática restaurativa. Assim, começamos a entender o que realmente é o protagonismo e como podemos ajudar os alunos. Nas aulas de projeto de vida, protagonismo e encontros de clubes juvenis meus colegas e eu tivemos a conscientização do ato de ser multiplicadores desse projeto”, relata a jovem mediadora Stefani Santos Oliveira, aluna da E.E. Professora Altina Moraes Sampaio.

Esse protagonismo é tão forte, a ponto de a própria gestão da escola prestar esclarecimentos sobre os alunos que acumulam faltas. Os mediadores que também são líderes de classe relatam à vice-diretora, no momento da chamada diária – feita pela própria Glaucia em todas as classes, caso algum aluno faltou uma ou mais vezes. Depois da terceira falta, eles solicitam à Glaucia que entre em contato com o responsável pela criança ou adolescente para que seja dada alguma justificativa. É nessa hora que a hierarquia da escola se vê totalmente invertida, pois os mediadores e líderes de classe a procuram para saber se o pai ou a mãe do aluno faltoso deu algum esclarecimento.

Aos risos, Glaucia comenta que “é muito invertido, só que já estou tão acostumada com a cobrança. Quando eles chegam na minha sala eu já começo a falar”. A vice-diretora acrescenta: “eu criei o habito deles serem meus parceiros. Sou vice, mas sou mediadora também”, completa.

Teve até um caso em que duas mediadoras mirins conversaram diretamente com a mãe de um aluno. “A mãe aceitou de imediato falar com os alunos e não com a direção da escola. Como fazemos isso há muito tempo, os pais já sabem a importância do projeto, entendem e aceitam muito bem”, enfatiza Glaucia. E assim, aos pouquinhos, a evasão escolar vai sendo combatida.

A aluna mediadora mirim, Natalli Fernandes, gosta muito de participar do projeto, “porque eu posso ajudar os meus colegas da sala e os alunos novatos a respeitarem, a ter boas maneiras e, ainda, a saber ouvir, pois isso é muito importante”, explica a adolescente.

O bullying é sempre uma questão muito séria e precisa de atenção especial em todas as escolas. Identificar e combater a prática de perseguição espontânea também é um dos focos dos mediadores mirins. Em parceria com um grupo de voluntários, alunos e direção participam de conversas com orientações sobre como ser mais forte que o bullying. Além disso, quando os professores percebem algo estranho dentro da sala logo tratam de informar os mediadores, que darão um jeito de ajustar as coisas. “O respeito cresce muito. Eles olham os mediadores como espelhos. E de fato são alunos que devem ser tidos como exemplos”, se admira a vice-diretora.

Além do respeito, da solução para os conflitos, do controle de evasão escolar e do combate ao bullying, a iniciativa colabora também para o processo de aprendizagem dos estudantes. Segundo o professor Rodolfo Ribeiro Chiccoli, os alunos tem mais “facilidade na concentração e foco nas atividades propostas e nos estudos. Bem como usufruem de maneira protagonista os quatro pilares da educação como: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser”, comenta.

Um simples projeto e tantos benefícios. “Tudo isso é direcionado para o protagonismo e para o projeto de vida dos alunos. Aluno funciona! Nossa, funciona demais! E os meus mediadores amam o que fazem”, finaliza a vice-diretora Glaucia.