O Conselho Universitário da Unicamp (Consu) aprovou um programa destinado a ampliar o número de alunos vindos de escolas públicas em seus cursos de graduação. A partir do próximo vestibular, estudantes que tenham cursado todo o ensino médio na rede pública receberão automaticamente 30 pontos a mais na nota final da segunda fase. Candidatos auto-declarados negros, pardos e indígenas que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas também terão, além dos 30 pontos adicionais, mais 10 pontos acrescidos à nota final.
O reitor Carlos Henrique de Brito Cruz destacou que o programa não deve ser confundido com sistema de cotas, uma vez que não há reserva de vagas pré-estabelecidas. Segundo o reitor, trata-se de um “programa de ação afirmativa” que tem como objetivo atrair os estudantes mais capazes. Brito Cruz disse que, com a medida, a Unicamp faz inclusão social levando em conta a autonomia universitária, a qualificação e o mérito dos estudantes admitidos. “Com isso, mostramos que é possível fazer inclusão social e ao mesmo tempo melhorar a qualidade do quadro discente”, afirmou.
A média de aprovação de candidatos provenientes de escolas públicas nos últimos nove anos é de 32,6%, segundo o estudo realizado pela Comvest. De acordo com o professor Renato Pedrosa, coordenador do estudo, as projeções utilizando dados do Vestibular de 2004 indicam que a medida aprovada pelo Consu deverá elevar essa participação para pelo menos 38% já a partir do próximo vestibular. No caso dos que se declararem pretos, pardos ou indígenas, as projeções indicam um acréscimo mínimo de cerca de 10%, novamente sobre os números de 2004. Entre os isentos, o impacto deve ser de cerca de 20% de acréscimo, uma clara indicação do efeito de inclusão social do programa.
Preocupada em facilitar o acesso ao vestibular de estudantes de baixa renda, a Unicamp vai oferecer 5.868 isenções totais da taxa de inscrição – que é de R$ 90 – a candidatos da rede pública e que sejam de famílias carentes, além de um número ilimitado de isenções a todos os candidatos da rede pública que optarem por uma das licenciaturas em período noturno (Ciências Biológicas, Letras, Licenciatura Integrada em Física e Química e Matemática). No caso das isenções para as licenciaturas – que formam professores para atuar no ensino médio e fundamental – o objetivo é estimular a inscrição de alunos que, a partir do acesso a uma formação universitária de qualidade, possam eventualmente retornar à escola pública e influenciar positivamente o seu ensino. Além disso, a Comvest vai oferecer 100 isenções aos funcionários da Universidade, com o objetivo de incentivar o investimento na qualificação desses profissionais.
No ano passado, 4.592 candidatos receberam a isenção total e puderam prestar o vestibular sem pagar taxa de inscrição. A expectativa do coordenador executivo da Comvest, professor Leandro Tessler, é que para o vestibular de 2005 mais candidatos atendam aos pré-requisitos e possam ser beneficiados com a medida. A concessão das isenções reflete a preocupação da Unicamp em adotar medidas de inclusão social. No último vestibular, o número de isentos que conseguiram aprovação e se matricularam praticamente dobrou, chegando a 120 estudantes contra 67 no ano anterior.
Para ter direito à isenção da taxa de inscrição do Vestibular, o candidato deve preencher alguns requisitos: ter cursado o ensino fundamental (1º grau) e médio (2º grau) integralmente em instituições da rede pública de educação, estar integrado a domicílio com renda bruta correspondente a R$ 389,39 mensais por morador, já ter concluído ou estar concluindo este ano o ensino médio e ser residente e domiciliado no Estado de São Paulo.
No caso dos funcionários Unicamp/Funcamp, não será exigido o item relativo à renda mensal, mas o candidato deverá comprovar sua situação de funcionário da Unicamp ou Funcamp. Serão beneficiados os 100 candidatos mais carentes. A renda também não é requisito para os que optarem por uma das licenciaturas em período noturno. Desde que cumpram os outros requisitos, todos serão beneficiados.