(Publicado no jornal Folha de S. Paulo, 02/12/2011, p. A3)
O nosso desafio não é dar ao ensino público o padrão do ensino particular, pois este também deixa a desejar; os jovens merecem muito mais
Herman Voorwald
O Estado de São Paulo dá hoje importante passo para fazer sua educação caminhar para níveis de excelência. Esse tema geralmente evoca a comparação com o ensino público paulista de há poucas décadas.
Naquela época, a rede estadual de ensino selecionava com exames os estudantes que nela ingressavam. Muitos pais de alunos das escolas particulares lamentavam por não terem seus filhos nas escolas públicas.
Na realidade, o ensino público não era acessível a grande parte da população carente. E mal dava conta da própria classe média.
Era necessário fazer rapidamente o que países europeus haviam realizado ao longo de muitas décadas: universalizar o ensino básico gratuito.
Foi muito grande o esforço do Estado de São Paulo em apenas 25 anos. No Ensino Médio, por exemplo, as 545 mil matrículas na Secretaria da Educação em 1985 saltaram para 1,512 milhão em 2010.
Com essa acelerada universalização, o ensino público não conseguiu manter seu padrão de qualidade superior em relação ao privado, que se tornou muito mais excludente. No Ensino Médio, por exemplo, a rede particular paulista caiu de 251 mil alunos em 1985 para 249 mil em 2010.
A sociedade também mudou muito nessa transição. A competividade no mundo do trabalho afetou a atenção de pais com filhos e a relação da sociedade com a educação, como se a parte desta que cabe à família não existisse mais ou tivesse sido terceirizada para a escola.
Hoje, não há um passado glorioso a ser resgatado, como é dito muitas vezes, pois na verdade se mascarava a exclusão. E nosso desafio também não é dar ao ensino público o padrão do ensino particular, pois este também deixa muito a desejar em relação aos padrões internacionais. Nossas crianças e jovens merecem muito mais que isso.
Além da universalização, São Paulo venceu também outros desafios, como o combate à evasão escolar, a produção de material de apoio pedagógico, a avaliação de rendimento da rede estadual e a implantação da progressão por mérito e do bônus por desempenho.
Graças a esses avanços, a Secretaria da Educação, com pleno apoio do governador Geraldo Alckmin, estabeleceu como objetivos maiores fazer de seu ensino um dos melhores do mundo e, da carreira de professor, uma das mais prestigiadas por nossos jovens.
Para isso, o ponto de partida não poderia ser outro senão valorizar o professor. Em julho, tornaram-se lei a política salarial para o quadriênio 2011-2014 e a ampliação dos níveis de promoção de carreira não só para docentes, mas também para servidores de apoio escolar, cujo quadro foi ampliado em um terço.
Além disso, depois dos 16 mil docentes em curso na Escola de Formação de Professores, mais 9.000 concursados serão convocados, permitindo abrir novo processo seletivo no primeiro semestre de 2012.
No entanto, quaisquer que sejam os investimentos do governo, só teremos grandes avanços com o envolvimento de toda a sociedade, com famílias acompanhando o desempenho de seus filhos, o trabalho de suas escolas e também as ações do governo. E com o apoio da iniciativa privada, de associações civis e de todos os setores a essa mobilização.
No dia 6 de novembro, 185 mil familiares de alunos, reunidos em 1.934 escolas estaduais, encaminharam cerca de 95 mil propostas para essa mobilização.
É também em resposta a essa iniciativa que o governador Geraldo Alckmin institui hoje o Compromisso de São Paulo pela Educação. Um compromisso que deve ser de todo o nosso Estado com o Brasil.
Herman Voorwald, 56, é Secretário da Educação do Estado de São Paulo.