Escritor e educador expõe sua visão inovadora da educação no Brasil e fala sobre questões polêmicas no programa de entrevistas da TV Cultura
Relação aluno e professor, vestibulares e saberes inúteis, progressão continuada e o ritmo de aprendizagem da criança, conteúdos programáticos sincronizados e diversidades regionais foram alguns dos temas discutidos em 90 minutos de entrevista com Rubem Alves, no programa Roda Viva da última segunda-feira, 8 de setembro de 2003, Dia da Alfabetização.
A professora Leila Iannone, Assessora Pedagógica da Secretaria de Estado da Educação, participou como entrevistadora ao lado de outros convidados: Gilberto Dimenstein, colunista do jornal Folha de S. Paulo, Leonardo Trevisan, colunista especializado em Educação do jornal O Estado de S. Paulo, Tatiana Belinky, escritora de livros infanto-juvenis, Nélio Bizzo, da Faculdade de Educação da USP, e Paola Gentile, editora da revista Nova Escola.
A entrevista foi mediada pelo jornalista Paulo Markun durante três blocos de 30 minutos. O âncora afirmou assumir um papel de “provocador barato” para incitar a discussão e não fazer ali uma simples conversa entre amigos e admiradores. Rubem Alves respondeu aos questionamentos dos entrevistadores e dos telespectadores, que participaram por telefone.
O escritor falou sobre a tensão criativa que existe no relacionamento entre professor e aluno, sobre o papel instigador e ativador de curiosidades que todo educador deve exercer na mente da criança e da sabedoria natural das pessoas para o ensino. Também não deixou de “retificar” a colocação de Aristóteles sobre o desejo inato de aprender que todo homem tem. Segundo Rubem Alves, “todos os homens têm, enquanto crianças, o desejo de aprender”.
Ele acredita no potencial de aprendizagem das crianças e afirma que o professor deve estudar menos teoria e gastar mais tempo brincando com os pequenos. “Só assim é possível detectar as necessidades do aluno. Abrir espaço para a experimentação livre e descompromissada dá chance para que as dúvidas e curiosidades surjam e acaba sendo inevitável que perguntas sejam feitas”. Em sua concepção, a escola deve ser um espaço lúdico para experimentação.
O educador falou, ainda, sobre questões mais polêmicas, como os moldes atuais do vestibular. “Os alunos devem ser capazes de fazer perguntas, e não de dar respostas. As respostas estão nos livros. Mesmo que não haja resposta certa para tudo”, diagnostica. O saber inútil, desconectado das realidades regionais, também foi condenado. “Para que o menino de classe pobre vai querer saber quais são as enzimas envolvidas no processo de digestão enquanto o crime e a droga o cercam?”, questiona.
Também teólogo e psicanalista, ele defendeu a progressão continuada, como forma possível de respeitar o ritmo de aprendizado de cada criança, e comentou que os currículos escolares deveriam absorver mais as especificidades locais para lastrear o aprendizado no repertório construído pela criança na sua vida fora da escola. Estudar ficaria, assim, mais prazeroso e gratificante.
Tatiana Pinheiro