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quarta-feira, 15/03/2017
Pais e Alunos

Dia da Escola: conheça a história de algumas unidades centenárias do Estado de São Paulo

São cerca de 80 escolas com mais de 100 anos, que narram as mudanças no ensino, desde o século XX

O lar de cada pessoa talvez seja o principal espaço para a formação do indivíduo e de sua maneira de avaliar conceitos e valores, mas é na escola que as pessoas aprendem a se preparar para o mundo. É dentro da sala de aula que aprende matemática, português, ciências exatas e biológicas. É dentro da escola que se aprende também a conviver com o oposto, com quem pensa diferente, o que possibilita as primeiras grandes amizades, os primeiros grandes conflitos e suas soluções. A escola é fundamental na vida de qualquer um, e nada mais justo do que comemorar em 15 de março o Dia da Escola.

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O termo escola vem do grego “skholê”, o que significa descanso ou lazer, ou simplesmente “horas de ócio”. Mas, calma, isso não quer dizer que você tem que ir para a escola e ficar de pernas para o ar. Na Grécia Antiga, as atividades de estudo, filosofia e pesquisa eram exclusivas para as pessoas que não desempenhavam nenhum tipo de trabalho braçal, e que, por isso, tinham mais tempo livre.

Em 1549, os padres Jesuítas fundaram a primeira escola do Brasil, na cidade de Salvador. A segunda instituição foi fundada em São Paulo, no ano de 1554, data da fundação da cidade paulista.

Edifício Caetano de Campos


O edifício Caetano de Campos, onde atualmente funciona a sede da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, foi inaugurado em 2 de agosto de 1894 para funcionar em suas dependências a primeira Escola Normal paulista. O prédio é um dos mais significativos monumentos republicanos do Estado. Com 225 janelas, 86 metros de largura e 37 metros de profundidade nos pavilhões laterais, o edifício foi construído para ser um dos símbolos da educação estadual.

Originalmente, o prédio possuía apenas dois andares, até que, no final da década de 30, ganhou um novo pavimento para abrigar a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Por esse motivo, o Caetano de Campos é considerado, também, um dos berços da Universidade de São Paulo.

Escolas Centenárias do Estado de São Paulo


Uma volta ao passado e a costumes que já não existem mais. É essa a sensação ao entrar pelo portão central da Escola Estadual Romão Puiggari, no bairro do Brás, em São Paulo. O piso de ladrilhos e as portas de madeira escura, apesar de não serem mais as mesmas de sua inauguração, em 1898, mantém as características originais do prédio construído por Ramos de Azevedo.

Assim como o colégio do Brás, que este ano completa 113 anos, mais de 80 escolas estaduais de São Paulo são centenárias. O valor histórico dessas e de outras construções do início do século XX fez com que mais de 120 unidades escolares da rede fossem tombadas pelo Conselho do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT). Grande parte delas reflete as inspirações neoclássicas e o padrão das edificações da Primeira República, características marcantes dessa fase da arquitetura paulista.

Em 2011, a E. E. Pirassununga entrou para a lista de escolas com mais de cem anos. O prédio que abriga a escola foi construído em 1914 e, ainda hoje, é considerado um dos mais belos do Estado. Em seu interior, as grandes janelas e um salão nobre com ares de teatro o torna ainda mais deslumbrante do que quando visto de fora. Em 1981, parte do edifício foi danificada por um incêndio e teve que ser restaurada. O incidente é um marco na história da escola.

Observar os detalhes desses prédios é também uma forma de conhecer a história da educação no Estado. No pátio da E. E. Romão Puiggari, uma marca no chão aponta o local onde antes ficava o muro que separava meninos e meninas na hora do intervalo. Na época da construção da escola, até mesmo as salas de aula eram separadas por sexo.

Berço dos imigrantes


O Primeiro Grupo Escolar do Brás, hoje conhecido como E.E. Romão Puiggari, foi construído para atender os imigrantes espanhóis, italianos e portugueses que moravam no bairro. “Eles diziam que queriam aprender o brasileiro na escola”, conta Maria Luíza Pedreira, ex-aluna e professora da escola. Símbolo da miscigenação no início do século, ainda hoje a escola recebe alunos de diferentes países como Bolívia e Coréia, filhos dos trabalhadores e donos das oficinas de costura que se instalaram na região.

Na história do prédio há relatos de poucas alterações na estrutura original, entre elas a substituição da escadaria original de madeira, destruída em um incêndio em 1926. O que realmente mudou foram os arredores da escola e os costumes da comunidade. Andrea Severino, diretora e também ex-aluna, conta que na época em que estudou por lá era costume as mães acompanharem seus filhos até o portão de entrada. “Havia também um túnel, que passava por debaixo da Avenida Rangel Pestana, para que os estudantes atravessassem em segurança”, comenta.

Monumento na Avenida Paulista


Fundado em 1907, o Grupo Escolar da Avenida Paulista nasceu para reunir seis pequenas escolas da região. Seu primeiro endereço foi a Rua Pamplona, onde permaneceu até 1919, quando se mudou para um suntuoso prédio na Avenida Paulista, também projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo.

Apesar do endereço nobre, a Escola Estadual Rodrigues Alves, como é chamada hoje, não foi criada para receber a elite do início do século passado. O propósito de atender a comunidade menos abastada não fez com que o prédio fosse menos luxuoso e, assim como as demais construções da época, o edifício ostenta vitrais trabalhados, pé direito de cinco metros de altura e grandes escadarias de madeira.

A preservação do edifício, tombado em 1985 pelo CONDEPHAAT, rende um trabalho dobrado para direção e professores. A obra mais recente aconteceu entre 2003 e 2006, quando uma parceria com o Banco Real promoveu a restauração completa do prédio. Durante os trabalhos, foram encontrados afrescos originais, que estavam escondidos sob as camadas de tinta. Comenta-se que outras relíquias históricas também estariam escondidas por debaixo das camadas de tinta das paredes da E. E. Rodrigues Alves. Em 1932, a escola serviu de abrigo para os combatentes da Revolução Constitucionalista, que teriam deixado mensagens daquela época nas paredes do prédio.

Memória viva


O Grupo Escolar de Vila Mariana, criado em 1909, mudou para o edifício neoclássico na Rua Dona Júlia em 1919. Hoje, com o nome de Escola Estadual Marechal Floriano, o prédio mantém sua fachada nas mesmas formas e cores originais, porém cercada por muros mais altos do que antigamente. Quatro novas salas foram construídas nas laterais do prédio e algumas reformas foram realizadas nos telhados e pisos. A Fundação para o Desenvolvimento da Educação realizou cinco ou seis obras e ajudou a manter essa relíquia, que é o único prédio tombado do bairro.

Outra relíquia mantida pela direção é o contato com ex-alunos e moradores do bairro, uma espécie de memória viva da escola. Dona Julieta Zughaib, hoje com 87 anos, frequentou a E. E. Marechal Floriano até os 11. “Voltar aqui me traz muitas lembranças boas da minha época. Venho sempre que posso”, afirma Julieta.

O prédio que abriga a Escola Estadual Culto à Ciência foi construído pela Sociedade Maçônica de Campinas em 1874 e só passou para as mãos do Estado em 1892. A beleza do edifício, construído nos moldes da arquitetura clássica francesa, tornou a escola um ponto turístico da cidade e uma parada obrigatória no roteiro dos visitantes.

Além de ser um patrimônio histórico, tombado pelo CONDEPHAAT em 1983, a escola preserva um acervo com mais de 20 mil livros, incluindo obras que datam de 1600 e 1700. Ali foi criado um Centro de Memórias que hoje recebe pesquisadores de vários países.

Com reputação de escola tradicional, a Culto à Ciência é referência em educação na cidade e no Estado. A fama faz jus à lista de ex-alunos, que conta com nomes que vão de Santos Dumont a Fausto Silva.