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quinta-feira, 01/12/2005
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Duas escolas, cartas e um “pombo correio”. A poesia toma conta de São João da Barra.

“Projeto Cartas” emociona alunos de sexta série e gestores de duas escolas, uma pública e outra particular. De um lado, os alunos da Edda Marcussi (pública) e, de outro, a […]

“Projeto Cartas” emociona alunos de sexta série e gestores de duas escolas, uma pública e outra particular. De um lado, os alunos da Edda Marcussi (pública) e, de outro, a boa turma da Fundação Educacional da Alta Mogiana de São Joaquim da Barra. Entre eles, a professora comum, de Língua Portuguesa.

Carta como ferramenta de narrativa e de emoção. Foi assim que a professora Adriana Garcia imaginou seu projeto, em 2004, o primeiro ano da atividade. Ela só não imaginou que teria a missão de pombo correio de seus alunos. Ela gostou de tudo o que descobriu a ajudou a descobrir. A experiência com a emoção escrita continua.

Abaixo, publicamos uma carta de avaliação de tudo o que foi feito nesses dois anos e como os alunos reagiram ao projeto. A autora é a professora Adriana Garcia:

São João da Barra, 1 de dezembro de 2005

“Desde os tempos mais remotos, com a criação da escrita devido à necessidade humana de comunicar-se, fazer comércio e registrar suas conquistas, a carta já era utilizada pelos fenícios a fim de “matar a saudade” dos familiares distantes. Com o passar dos séculos, com a evolução tecnológica, a carta começou a perder terreno para o correio eletrônico, ou seja, a linguagem rápida e abreviada da Internet. Entretanto, sem o mesmo zelo e cuidado com a língua escrita, sem a emoção proporcionada ao destinatário quando encontra ou recebe uma carta de amigo ou parente distante.

Desta forma, cabe aos profissionais ligados ao ensino da Língua Portuguesa o resgate deste meio de comunicação tão esquecido e a reflexão sobre as novas formas de uso e adequação da escrita. Trabalhamos as características próprias do gênero “carta” e o desafio foi lançado a meus alunos da sexta série. A idéia foi recebida com entusiasmo por todos e as correspondências foram trocadas a partir de outubro/05.

Etapas do projeto

Primeiramente, estudaram o gênero e leram cartas atuais e mais antigas, analisaram a linguagem e as transformações ocorridas. Também leram o livro paradidático Ana e Pedro, de Vivina de Assis Viana e Ronald Claver – Cartas (Editora Atual), da coleção Transas e Tramas.

Posteriormente, sorteamos os nomes, deixando os alunos do Edda optarem se queriam um amigo ou amiga para trocar cartas.

A partir daí, durante mais de trinta dias, as duas turmas enviaram suas cartas. Eu fui o “pombo-correio”. No período da manhã recolhia as cartas dos alunos da Feam-Coc; à tarde, entregava-as aos alunos da Escola Edda Marcussi.

Impressões e Emoções

É mágico o poder e o fascínio que a palavra exerce sobre seu leitor. Apesar de morarem na mesma cidade, todos permaneceram fiéis às cartas e não tentaram se conhecer pessoalmente nem utilizar outro meio de comunicação como o celular ou o telefone.

Trocaram versos, letras de músicas, CDs, curiosidades, descrições de colegas…

Havia sempre uma decepção, um olhar triste quando do envelope da professora não saía nenhuma resposta ou carta do novo amigo.

Os dias passaram rapidamente, provas bimestrais, SARESP e as férias aproximando-se da escola particular. Era necessário marcar o encontro das duas turmas.

Tarde ensolarada, muita ansiedade, picolés refrescantes e a timidez do primeiro encontro

Vinte e seis de novembro às 16h30, Praça Sete de Setembro. De vários pontos da cidade de São Joaquim da Barra, timidamente, em grupinhos, os alunos da iam chegando…Primeiro encontro, timidez, surpresa, presentes, abraços, fotos para eternizar o momento tão único na vida de cada um dos participantes do projeto.

Por ser um sábado, alguns não compareceram devido aos compromissos familiares, mas houve muita troca de energia e descontração entre os presentes. Agora, prometem não perder o contato e querem visitar as respectivas escolas para conhecerem as duas realidades.

Avaliação do Projeto e conclusões finais

A maior preocupação era o receio de aumentar o preconceito que existe, em muitas cidades, quanto à diferença das escolas públicas e privadas.

Houve a reflexão sobre as duas realidades e a importância de conhecermos o outro lado para, depois, tecermos nossos comentários. A experiência levou as turmas de sexta série a observar as oportunidades de cada um, a valorização da família e da escola, a chance de rever prioridades e entender o valor do estudo e sua importância na vida de cada pessoa, os novos amigos e a troca de conhecimento. A poesia da carta foi redescoberta e sua função social de aproximar as distâncias e amenizar as diferenças, restaurada. Não ocorreu nenhum tipo de nota, pois os alunos participaram espontaneamente da atividade.

Fiquei emocionada com o sucesso do projeto. Nossos jovens alunos estão carentes de amor, de atenção e de diálogo. Acima do ensino da norma padrão da Língua Portuguesa, está a valorização do humano e do sentido da vida. Nós plantamos sementinhas nesses corações sedentos e colheremos os frutos, talvez poucos, na vida futura de cada um”. Adriana R. G. F. Garcia, professora de Língua Portuguesa na rede pública e particular de ensino.