Nos anos 1980, Sonia Maria do Valle Rossini não gostava do apelido Biro; quatro décadas depois, ela está na terceira geração de alunos e é por esse nome que é conhecida na cidade de Jundiaí
Em dezembro de 1978, Sonia Maria do Valle Rossini, aprovada no concurso público como professora de geografia, escolheu o cargo na Escola Estadual Maria de Lourdes de França Silveira, em Jundiaí, porque a unidade tinha o mesmo nome de uma tia. Para assumir as aulas, precisou se mudar grávida e com mais três filhos da cidade de Rio Claro. Ela não tinha ideia que, quase 45 anos depois, ela iria querer parar o tempo para não se aposentar e muito menos que memes seriam criados e aliados dentro de sala de aula.
Sonia Maria tem 73 anos de idade e, em 2025, será obrigada a se aposentar por lei, quando completar os 75 anos, idade limite para a aposentadoria compulsória. Na escola, alunos dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio já estão na disputa para saber quem terá acesso às últimas aulas de uma trajetória cheia de alegrias.
A professora, que está há mais tempo dentro da sala de aula entre todas as mais de 5.000 escolas da rede, calcula que já ensinou geografia a mais de 30.000 alunos nestes 44 anos. “As meninas chegam à minha sala e me dizem: você já deu aulas para a minha avó. Eu brinco para que elas falem mais baixo, mas já estou na terceira geração e com muito orgulho”.
O mundo na sala de aula
Aos 55 anos, a professora decidiu que queria ver o mundo. Em quase 20 anos, durante as férias e nas licenças-prêmio a que professores têm direito, Sonia já visitou 74 países e tem transformado a sua vivência em temas para suas aulas de geografia.
“Já estive em Chernobyl e em Auschwitz e em cidades que estão no centro da guerra na Ucrânia, Rússia, por exemplo. Toda a minha vivência é transformada em temas para as aulas de geografia. Tenho ex-alunos espalhados por vários países do mundo e eles me dizem que eu os inspirei, assim como tenho ex-alunos que decidiram fazer geografia lá na Unesp de Rio Claro, onde me formei”.
Memes e fusca azul
Foram os estudantes que mudaram a vida da professora e também como ela é chamada desde os anos 1980. Na escola e em toda a cidade, Sonia é conhecida como professora Biro, apelido dado por eles em razão dos cabelos loiros e encaracolados, como os do jogador de futebol. “No começo, eu me incomodava, hoje todo mundo me chama assim aqui na escola e também na cidade. Assumi esse nome”, diz.
O bom humor, assim como a dedicação e amor pela profissão, seguem a jornada da professora Biro. Para a correção de trabalhos e provas, ela leva os memes para a sala de aula e tem uma coleção de carimbos. Entre eles, há as seguintes frases: “O Brasil tá lascado”, “Não fez nada mais que sua obrigação”, “Tem como desver?” e “Eu não entendi o que ele falou”. Todo mundo ganha alguma impressão, diz a professora.
Se os memes já são divertidos o suficiente para os adolescentes, a professora que é conhecida em toda a cidade oferece até na rua motivo para brincadeiras. Sonia tem um fusca azul, motivo de uma das brincadeiras que ultrapassa gerações de crianças e adolescentes. “Eu nunca briguei com um estudante em toda a minha vida profissional e ainda tenho esse fusca azul, que eles me pedem para que eu não venda e não pinte”.
A professora já tem planos para a aposentadoria depois que completar os 75 anos. Viagens? Com certeza, mas Sonia também já tem combinado com um ex-aluno um emprego garantido na empresa de tecnologia dele, em Jundiaí.