Para marcar o Dia Internacional da Mulher, nesta sexta-feira (8), escolas estaduais localizadas na capital, região metropolitana e interior têm organizado atividades para que estudantes reflitam sobre a valorização e o papel das mulheres na sociedade a partir da nomenclatura das próprias unidades.
Na Escola Estadual Professora Leico Akaishi, localizada em Ribeirão Pires, na Diretoria Regional de Ensino de Mauá, os estudantes foram incentivados por seus professores a desenvolverem uma pesquisa que compara a nomenclatura de espaços públicos que homenageiam mulheres e homens. O resultado da pesquisa, que envolve estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA), será apresentado nesta sexta-feira (8), durante evento em alusão ao Dia da Mulher na escola.
Ao mesmo tempo, escolas que receberam o nome de mulheres importantes para a educação e cultura brasileiras se preparam para fortalecer o vínculo da comunidade escolar com a história de suas patronas. Cacilda Becker, Cecília Meireles, Tenista Maria Esther Andion Bueno, Cora Coralina, Tarsila do Amaral e Tomie Ohtake estão entre as mulheres que foram homenageadas com nomes de escolas e têm suas vidas e feitos celebrados pelas unidades de ensino do estado.
‘Já prevemos o resultado’
O diretor da escola Leico Akaishi, professor André Sapanos de Carvalho, e as professoras e professores da unidade já prevêem que os espaços registrados com nome de homens são maiores que os que recebem nomes de mulheres.
“A ideia deste levantamento surgiu desde o planejamento anual das nossas atividades e ele está sendo trabalhado de forma interdisciplinar. Cada professor trata a temática de uma forma, como os de língua portuguesa na produção textual, de matemática na tabulação dos dados e os de humanas nos debates. O foco é demonstrar que a ausência de nomenclatura feminina nos espaços públicos é reflexo da invisibilidade que as mulheres e suas histórias têm perante à sociedade. Isso se deve ao baixo índice de mulheres nos espaços de poder, que decidem as nomenclaturas dadas a estes espaços”, comenta o diretor.
Os 300 alunos da escola foram provocados a levantar nomes de escolas, ruas de seus bairros, patrimônios tombados do estado de São Paulo e outros espaços na cidade. A apresentação dos resultados pelos estudantes acontece ao longo do dia letivo, na sexta.
Os pequenos querem ir ao teatro
Na zona norte da capital, a lição das crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental tem sido conhecer a história da atriz Cacilda Becker, que dá nome à unidade. Uma mostra com o que elas têm aprendido sobre a dama do teatro brasileiro está prevista para esta sexta, Dia da Mulher.
À frente da organização, estão os pequenos gremistas e representantes de sala. “Além do aprendizado dentro da escola, para este ano já estamos programando a aproximação das crianças com o teatro. O curioso nesse processo tem sido acompanhar, por exemplo, o entendimento das crianças de que, em São Paulo, existe um teatro que tem o mesmo nome que sua escola”, conta a diretora da unidade, professora Cristiane Allah Fernandes.
‘Sou poeta por causa dela’
A 500 quilômetros da capital, na cidade de Parisi, na Diretoria Regional de Ensino de Votuporanga, há apenas uma escola estadual. A unidade leva o nome de Cecília Meireles e, por ali, a obra da poeta ultrapassou o ensino-aprendizagem e virou inspiração.
A estudante Elma Cléia de Jesus Silva, de 14 anos de idade, estuda na unidade desde o ano passado, teve acesso às criações de Cecília Meireles nas atividades pedagógicas que exaltam a patrona, se apaixonou por poesia, venceu um concurso promovido pela escola nessa categoria e mantém suas produções como jovem poeta.
“Eu acho muito legal a escola envolver os estudantes com a poesia, um ramo que considero um tanto quanto esquecido. Antes, eu morava em outra cidade e não tinha contato com a leitura. Faz pouco tempo que me envolvi com a poesia e isso aconteceu pelo contato com a obra da Cecília Meireles. Me inspiro nela porque também escrevo com um estilo melancólico para falar sobre as coisas da vida”, diz a adolescente.
Escolhida pela escola
Quando chegou à escola estadual do Jardim Rossin, em Campinas, o diretor Arnaldo Valentim Silva encontrou uma unidade com o mesmo nome do bairro. Foi a partir do envolvimento de toda a comunidade escolar que ela se transformou em Escola Estadual Tenista Maria Esther Andion Bueno.
Ele conta que o nome da tenista foi o preferido entre outras cinco opções. “Por aqui, trabalhamos as conquistas da Maria Esther desde o acolhimento, no início das aulas, e ela volta a ser foco das atividades pedagógicas no mês de junho, mês que marca o seu falecimento. Procuramos exaltar a sua trajetória no esporte e como cidadã. É impressionante como ela se tornou uma modelo para a juventude periférica, mesmo tendo uma origem completamente diferente. Seria uma honra se um dia alguém da família dela visitasse a escola. Nossos alunos gostam muito de jogar tênis de mesa e estamos em busca de apoiadores para que, quem sabe, a gente um dia tenha aulas de tênis na escola”, afirma o diretor.
Nas artes, no muro e no aprendizado
Uma mistura de Tomie Ohtake e Frida Kahlo. Na escola estadual que leva o nome da artista plástica japonesa naturalizada brasileira o contato com a sua obra e com a arte vai para além dos muros da escola. Quando a escola teve o nome transformado para Tomie Ohtake, os filhos da artista estiveram em Guarulhos, no Parque Continental I, onde está localizada.
A escola manteve um vínculo que se mantém com sua patrona e seu legado e organiza visitas constantes de seus professores e alunos ao Instituto Tomie Ohtake, localizado em Pinheiros, na capital. São 1.300 estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio que aprendem anualmente sobre seus traços e esculturas, principalmente nas aulas da área de linguagens, e são incentivados a desenvolverem suas veias artísticas.
Segundo a diretora da unidade, a professora Edna Ribeiro, Tomie Ohtake é apresentada aos pais nas reuniões do início do ano letivo como uma referência como mulher e como personalidade importante para as artes no Brasil.
Para o Dia da Mulher, Tomie dá espaço a outras mulheres. Isso porque as professoras combinaram de representar figuras históricas. Entre as fantasias confirmadas estão a artista plástica mexicana Frida Kahlo e a guerreira e santa francesa Joana d’Arc.
Quem chega à Escola Estadual Tarsila do Amaral, em Osasco, já tem acesso à obra da modernista desde seus muros, com reproduções das obras Abaporu e Carnaval em Madureira pintadas por ali. Dentro da sala de aula, sua importância histórica para a cultura brasileira e latino-americana é parte integrante das atividades pedagógicas das aulas da disciplina de artes.
A escola também organizou uma apresentação com uma linha do tempo que mistura a história da escola — inaugurada em fevereiro de 1977 com o nome Jardim Turíbio e que passou, por decreto, ao nome Tarsila do Amaral em setembro do mesmo ano —, e passa pela trajetória da artista, que morreu quatro anos antes, em 1973.
Ainda na região metropolitana, a Escola Estadual Cora Coralina, em Rio Grande da Serra, transforma os meses de agosto, data do aniversário da poeta, em agenda oficial para estudar a sua obra.