Encravada numa região violenta, a Escola Estadual Parque Piratininga II é exemplo de gestão e valorização do ambiente escolar
Escolas instaladas em regiões carentes e violentas da periferia das grandes cidades são obrigadas a repetir todos os problemas de seu entorno? Errado. Escolas inovadoras, administradas com dedicação e inventividade e integradas com os esforços de superação da comunidade podem, na verdade, contribuir para reduzir muitos desses problemas.
Um exemplo é a Escola Estadual Parque Piratininga II, em Itaquaquecetuba, Grande São Paulo, que já recebeu prêmios nacionais e internacionais de gestão escolar. Quando assumiu o cargo de diretora, há dez anos, a educadora Fátima Zein Casarini não imaginava o que encontraria pela frente. Uma escola constantemente depredada pela comunidade, alunos problemáticos e instalações precárias.
Os esforços da diretora e dos professores se voltaram para a a valorização e a recuperação do espaço escolar, e aos poucos ganharam a adesão dos alunos e da comunidade. A escola fez um mutirão, reconheceu os problemas e buscou soluções. A mudança de governo em 1996, facilitou a obtenção dos equipamentos necessários para o andamento dos projetos pedagógicos da equipe.
Fátima Casarini diz que o trabalho em equipe virou rotina. “Realizamos campanhas educativas sobre higiene, para melhorar o uso dos banheiros; criamos o projeto “lava-pés” — todos os alunos lavam os sapatos antes de entrar na escola e, deixam as salas limpas para o próximo turno — pois as ruas não eram asfaltadas. A conscientização atraiu a participação de alunos voluntários que nos ajudam a administrar tudo”, conclui a diretora.
Os resultados positivos trouxeram o reconhecimento. A escola ganhou em 2001 o concurso Renagest – Referência Nacional em Gestão Escolar – que premia as melhores escolas em administração e pedagogia escolar. O concurso, realizado anualmente, é uma iniciativa do Consed (Conselho Nacional de Secretários da Educação), da Fundação Roberto Marinho, da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) em parceria com a Secretaria Estadual da Educação.
Para a seleção final, foi criado um comitê estadual que escolheu cinco escolas do Estado de São Paulo, sendo quatro estaduais e uma municipal, selecionadas dentre as 897 inscritas. A Parque Piratininga II foi a vencedora do Estado de São Paulo, premiada em duas categorias: Referência Nacional em Gestão Escolar e liderança em gestão escolar – a diretora foi escolhida a melhor gestora na administração dos recursos recebidos via Secretaria de Estado da Educação.
A renovação da Parque Piratininga II foi reconhecida também pela Unesco — a Organização das Nações Unidas para a Educação — numa pesquisa sobre o tema: “Experiências bem sucedidas em escolas públicas, escolas inovadoras”. Durante três meses, em todos os turnos, três representantes da Unesco avaliaram a qualidade do trabalho feito na escola. O resultado ficou registrado num livro publicado em 2003.
A escola mantém projetos de canto coral, pintura artística, informática e desenvolvimento de esportes diferenciados como tênis-de-mesa, dama e xadrez. Ela fica aberta nos finais de semana, dentro do programa Escola da Família. Além dessas atividades, possui também uma biblioteca com 7 mil títulos disponíveis para a comunidade e outras escolas da região.
Diversos programas da Secretaria de Estado da Educação são aplicados na escola com bons resultados: as aulas de recuperação e reforço para os alunos que não conseguem sanar as dificuldades na sala de aula; os projetos Protagonismo Juvenil (incentivo das atividades culturais como teatro, bandas, fanfarras, entre outros); Prevenção Também Se Ensina (projeto que capacita professores para a prevenção ao abuso de drogas e às DST/Aids), pintura em tela (fora do horário de aula), e aulas de espanhol oferecidas semanalmente.
A Parque Piratininga II tem cerca de 1.300 alunos dos ensinos Fundamental e Médio, nos três turnos; 10 salas, 30 classes e, aproximadamente 40 professores. Os corredores da unidade escolar estão decorados com réplicas de quadros de autores famosos. A escola desenvolve permanentemente uma campanha anti-tabagismo (não existem mais alunos fumantes na escola). Além disso, com o projeto “Alunos 100% na escola”, reduziu o índice de faltas por meio do acompanhamento diário da presença. E a fama de escola inovadora ultrapassou fronteiras.
A escola é visitada constantemente por Ongs Internacionais. Uma supervisora de Ensino inglesa e uma professora da Faculdade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos, já estiveram lá e ficaram surpresas com os trabalhos desenvolvidos. O resultado dessas visitas se transformou numa pesquisa das condições pedagógicas para o trabalho com o aluno em sala de aula que utilizou a escola como exemplo. Comitivas de educadores da República Dominicana também já visitaram a escola para conhecer os projetos e políticas desenvolvidos ali.
Luciane Salles