O Dia das Mães é uma efeméride agradável para a maioria das pessoas, mas nem todo mundo consegue comemorar a data. Com o ciclo natural da vida, a figura materna, em muitos casos, não está mais presente, e o segundo domingo de maio passa a ser, então, um momento de pesar. Foi para driblar esse embaraço que a escola estadual Professora Helena Lemmi, que fica na Saúde, bairro da capital paulista, decidiu criar o Dia da Família, que terá sua primeira edição no próximo sábado (12), das 8h30 às 11h30.
A iniciativa tem diversos objetivos, que são ressignificar o conceito de família, promover a interação entre escola, comunidade e famílias, fortalecer os vínculos sociais e familiares e compartilhar as boas práticas escolares com os membros da comunidade. Em ATPC (Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo), “começamos a refletir, sentamos e pensamos a respeito do que poderíamos fazer. O grupo concluiu que teria que fazer ações coletivas de interações que compartilhassem o ‘momento dia a dia’ escolar com a comunidade, com os entes queridos”, esclarece a professora coordenadora pedagógica Evane Caroline Machado, a Carol.
A ideia já sondava o imaginário do corpo docente há um bom tempo, mas o estopim foi o momento em que um dos alunos perdeu sua mãe por motivo de doença. Diante disso, a equipe escolar, após reflexão coletiva, decidiu reformular o evento do “Dia das Mães”. Além do que, a sociedade passa por transformações que exigem da escola se adequar a elas.
“Quando começamos a preparar o evento, estávamos presos na estrutura de homenagem para a mãe, que muitas escolas fazem. Quando nos chegou a notícia sobre o falecimento da mãe do nosso aluno, veio o pesar de como iríamos fazer algo para o dia das mães para uma pessoa que não tem mãe”, explica Carol. A equipe de professores precisava, então, trabalhar a mudança de como a escola enxerga o tema. “A família não é mais mãe e pai, tenho alunos que quem educa é a avó, a tia, o padrinho, enfim”, completa Carol.
Pensar que a família é constituída somente de pai, mãe e filhos, atualmente, é um erro comum. Hoje, há variedade de laços familiares construídos de forma monoparental e homoparental. Não há como celebrar o dia das mães numa família em que a presença materna não está representada por uma mulher.
A unidade escolar encontrou no tema uma excelente oportunidade para trabalhar a aprendizagem dos estudantes. “A professora já perguntou com quem a gente mora e essas coisas”, conta o jovem Kauã da Silva Pine, que tem apenas 10 anos de idade. E, ao seu modo, Kauã tenta explicar como as coisas funcionam. “Tem gente que não mora com pai e mãe, tem gente que foi adotado, que tem um pai e um pai também, ou uma mãe e outra mãe também. A gente pode formar uma família de muitas formas. Pode ter só tio e tia, avó e avô, ou bisavô e bisavó, ou madrinha e padrinho. Pode até ser com animais. Se a pessoa se sentir bem, ela pode formar uma família com qualquer um”, esclarece Kauã.
Atividades do Dia da Família
Quem estiver presente no “Dia da Família” terá a oportunidade de participar de oficinas de pintura, bijuterias, aulas de alongamento, relaxamento (Tai Chi Pai Lin) e viver momentos musicais, com cantigas populares, que foram elaborados pela professora do 1º ano, Sheila Ferraz de Campos Trimer.
“São músicas que a gente canta com as crianças, bem infantil, de corpo, de gestos. E eu gosto de trabalhar com música, pois acho que as crianças tímidas têm um momento para se soltar”, afirma a professora Sheila.
A música é ferramenta eficaz na evolução dos alunos durante o processo de aprendizagem, isso porque é possível fazer com que eles associem “a própria escrita com a letra da música, cantada e falada”, elucida Sheila. Além disso, segundo a educadora, é mais prazeroso! Por isso, o momento musical no Dia da Família é bastante aguardado.
Manuela Alves Moura, que tem 9 anos de idade, relata que quem vai comandar o momento musical são os alunos do 1º e do 2º ano. Segundo a pequena, “eles que vão ajudar todo mundo a dançar e cantar. Vão fazer a coreografia”, assegura.
Com música ou sem música, o que importa mesmo é que será uma data para ser lembrada. “Eu acho que terá uma maior aceitação, um momento diferente de interação entre escola e família. Acho que será bem legal para a escola mesmo, por ter presença maior de pessoas e um público mais diversificado”, complementa Sheila.
Erik Gomes, 10 anos, mora com a madrinha e os irmãos. Todos estarão na escola Professora Helena Lemmi, no sábado (12), garante o aluninho. “Eu vou ficar bastante com minha tia, vou cantar e dançar”.
“O mundo está mudando e a gente precisa respeitar. Eu acho que a palavra que cabe é ‘Respeito’. A escola precisa acompanhar as transformações da sociedade, a gente não pode tampar o olho e fingir que as coisas não acontecem. Nosso trabalho quanto escola é abraçar a comunidade como ela é, e não formatar a sociedade. A escola é um lugar que abraça, um lugar onde as pessoas são respeitadas individualmente. E tudo isso a gente foi discutindo em grupo”, enfatiza a professora coordenadora pedagógica, Evane Caroline Machado.