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sexta-feira, 08/06/2018
Foto Divulgação
Boas Práticas

Extra! Extra! Jornalistas mirins estreitam laços entre escola e comunidade

Os estudantes fazem todo o processo de montagem de um jornal e informam os pais sobre o aprendizado em sala

Fazer jornalismo é coletar, investigar e analisar dados para que sejam produzidas notícias que informem a população. E tudo isso pode ser utilizado no processo de aprendizagem dos estudantes da rede estadual paulista. Na EE Henrique Dumont Villares as crianças do Ensino Fundamental decidiram que montar o periódico Mirante seria uma interessante forma de aprender e de mostrar aos familiares tudo que se passa dentro da escola.

“Tudo isso surgiu porque nós recebemos 30 exemplares do jornal Joca. Empoderados pelo Joca, os estudantes pediram para fazer o jornal da própria escola. Eles escolheram o nome, pois o bairro foi fundado pelo nosso patrono, um engenheiro agrônomo. Dumont Villares fundou o bairro numa parte alta, em que construiu um mirante. E de lá de cima dava pra ver o rio Tiete, por exemplo. Então o nome do jornal vem lá da fundação do bairro. E mirante quer dizer “mirar ao longe”. Depois de um concurso, com várias sugestões, Mirante ganhou”, conta Nadia Moya Brocardo, que é a professora coordenadora pedagógica da unidade.

O jornal Joca é destinado a jovens e crianças e traz notícias e matérias sobre o Brasil, o mundo e o universo infanto-juvenil com uma linguagem simples e de fácil compreensão. Inspirado nas publicações do gênero na Europa – especialmente na França – o Joca vem para suprir uma deficiência no mercado editorial brasileiro: a inexistência de um jornal exclusivamente para esse público. O jornal JOCA é distribuído gratuitamente para os alunos da escola Henrique Dumont Villares, desde 2016.

O Mirante

O Mirante serve como mais um instrumento de incentivo no hábito da leitura, além de trabalhar uma proposta interdisciplinar de exploração de questões culturais e temas transversais, que envolvem os setores e os segmentos da comunidade escolar.

“E o legal é que a gente coloca a opinião da criança, a maneira crítica de raciocínio. Durante a reunião de pauta, por exemplo, a criança precisa argumentar sobre o que quer escrever. E eles vão atrás do assunto, fazem pesquisa, desenvolvem a opinião própria e o poder argumentativo”, esclarece Nadia Moya.

“É muito legal ser jornalista, pois a gente coloca informações da escola ali no jornal para todo mundo ficar sabendo. A gente coloca a matéria que a professora está ensinando, eventos que acontecem na escola, as pessoas que nos visitam e a gente também divulga alguns trabalhos de voluntariados, num geral”, explica Heloísa Cardoso, que tem apenas 11 anos de idade.

Andre Leme, 10, quer ser jogador de futebol. Zagueiro de primeira linha, o aluno gosta de atividades coletivas, assim como funciona no esporte que escolheu praticar. “É legal trabalhar em grupo. É a coisa que eu mais gosto, pois a gente conhece mais nossos amigos e a gente interage bastante. No trabalho em grupo, como é feita a produção do nosso jornal, todo mundo tem uma função, e as pessoas que têm mais dificuldades podem ser ajudadas”, enfatiza o garoto.

Ana Esthefany Macedo de França, 10, é mais tímida quando dá entrevistas. Mas, a pequena acha bem legal e interessante escrever um jornal. “Eu aprendo muitas coisas, aprendo a escrever mais, a ler mais. Depois que comecei a ler o Mirante, passei a me interessar mais por outras revistas e livros. Eu gosto de ler muito história em quadrinhos”, elucida Ana.

Durante a realização da atividade, que acontece de fevereiro a dezembro, se avalia o nível de elaboração, leitura e compreensão dos textos em que cada aluno ou grupo faz. Também é possível perceber se os educandos tiveram prazer e curiosidade em participar das atividades. Assim, de uma maneira natural, eles se sentem à vontade para a criação dos textos e os ouvintes, que ainda estão no 1º ano da Fundamental, motivados para a escuta e para a redação das atividades propostas.

Clarissa Medeiros, 11, relata que o Mirante carrega muitas informações bacanas. “Eu gostei muito da matéria das professoras aposentadas. Foi legal, porque elas já saíram da escola e voltaram aqui para nos visitar. Aí dois alunos do 4º ano escreveram a matéria”, explica. Outro ponto importante, destacado por Clarissa, é o acompanhamento feito pelos pais dos estudantes. “Eu acho muito interessante o Mirante porque, além dos alunos buscarem as informações, os pais gostam. Os meus pais leem comigo, meus amigos também leem. E meus pais ficam sabendo pelo jornal tudo o que eu estou fazendo na sala de aula”, garante a jornalista mirim.

Nadia Moya conta que os estudantes escrevem todas as matérias sobre as atividades da escola, e quando isso vai para casa tem o poder de ampliar o conhecimento das crianças. “Existe uma pesquisa sobre o que é Democracia, por exemplo. As crianças participam de várias atividades sobre o tema e depois escrevem sobre o assunto. Quando os pais leem o jornal, ficam sabendo o conteúdo que está sendo trabalhado em sala de aula”, ilustra a professora coordenadora.

Além disso, “o jornal contribui para o aperfeiçoamento da leitura, para a produção de textos. Com esse trabalho, o aluno conhece diversas formas de linguagens, aprimora o vocabulário, tem acesso a informações internas da escola, isso em todas as disciplinas. Tem gráfico em matemática, o professor de artes fala sobre grandes artistas e assim vai”, completa Nadia.

O jornal o Mirante é semestral, e sua 5ª edição está sendo finalizada. A escola imprime uma tiragem de 1500 a 200 exemplares e distribui entre os alunos e funcionários. A fase seguinte é fazer com que as turmas interajam entre si. Os alunos do 5º ano, por exemplo, leem as matérias dos alunos do 1º, que escutam as matérias dos alunos do 3º e assim vai. Depois, cada sala envia uma carta aos autores sobre as impressões que tiveram dos textos produzidos. E essa interação toda atingem também os pais, que ficam encantados a cada tiragem.

“Aconteceu algo muito marcante aqui. Era um dia de muita chuva, e a escola fica numa rua que é bastante íngreme, e a correnteza estava um pouco forte. Uma aluna foi pular a água, escorregou e começou a ser carregada ladeira abaixo. Foi então que um vizinho borracheiro agarrou a criança e a suspendeu, mas no processo pisou em falso e quebrou uma perna. Mesmo assim, ele conseguiu evitar uma tragédia, pois a nossa aluna estava indo em direção a um bueiro largo, e ela iria acabar caindo lá dentro. Depois do susto, nossos alunos apuraram a história, entrevistaram o herói daquele dia e a matéria foi publicada. Por conta do jornal, toda a escola ficou sabendo dos perigos e os professores puderam trabalhar a questão de prevenção de riscos. E o borracheiro, além de herói, ficou famoso também”, relembra Nadia Moya.

E assim, com um simples jornal e muita força de vontade de todos os estudantes, professores e funcionários da escola Henrique Dumont Villares, a comunidade se aproxima e os laços ficam estreitos. “Eu acho que o jornal aproxima a escola dos pais. Meu pai senta comigo para ler e elogia todas as notícias do Mirante. E eu fico muito feliz!”, comemora a aluna Clarissa Medeiros.